O tema do momento na Alemanha é o duplo escândalo de o artigo de um grupo de jornalismo de investigação sobre o director do Bild usar o seu imenso poder para se servir sexualmente de mulheres que queriam trabalhar nesse jornal (escândalo nº1, o Harvey Weinstein do jornalismo alemão) ter visto a sua publicação proibida pelo dono da empresa de media para a qual trabalhava esta equipa de investigação (escândalo nº2, ataque à independência do jornalismo).
Opá, a sério! Isto é o "homem branco velho" em todo o seu estertor.
Então Ippen, o dono do Ippen Verlag (o 5º maior grupo de media na Alemanha), acreditava que conseguia impedir a publicação de um artigo de investigação resultante de um trabalho de muitos meses?
Então Reichelt, o director do Bild, na segunda década do nosso século ainda acreditava que ia conseguir servir-se daquelas mulheres jovens, e o escândalo não lhe ia rebentar nas mãos?
(embora, tenho de reconhecer, no "men's world" dessa empresa se apreciasse descontraidamente as colaboradoras em termos de »fuckability«, e o sistema estivesse bem organizado para proteger o seu chefe - como relata um artigo da Spiegel em Março de 2021 com o título "fornicar, promover, descartar")
Enganaram-se ambos. Reichelt foi ontem despedido, e elementos centrais da investigação cuja divulgação Ippen tentou impedir foram publicados pelo New York Times no domingo, e pela Spiegel ontem e hoje.
Tenho a certeza que a notícia chegará em breve aos meios de comunicação portugueses, pelo que me dispenso de dar mais detalhes.
Limito-me a acrescentar que este tipos quase me fazem pena, porque ainda não se deram conta de que o mundo que os criou já não é o que era.
(eu disse: "quase")
1 comentário:
A mudança em curso faz-me lembrar o velho chiste sobre como ocorre a falência pessoal (primeiro devagar, e depois, muito depressa).
Por isso, não me surpreende o marialvismo fora de prazo destes passarões. E ter pena (no sentido de não se conseguir sequer sentir desprezo tal a miséria intelectual e moral de tais figuras) não é sequer coisa que eles mereçam...
Foram apanhados na voragem de uma verdadeira revolução de costumes, que começou porque algumas mulheres se limitaram a dizer alto e bom som que bastava... As redes sociais amplificaram o grito e mostraram a muitas outras que não estavam sozinhas...
A sociedade em que vivemos é muito mais transparente, e isso até é sobretudo negativo pelas implicações que tem na perda da privacidade de cada um.
Mas neste caso, como noutros, a tecnologia teve um efeito libertador...
Enviar um comentário