30 agosto 2021

A de Aveiro, B de Braga, C de Coimbra...

Nunca aprendi os nomes certos para soletrar em português. Em vez de A de Aveiro e B de Braga, era o que saía no momento - A de atãová, B de burro...

Também não aprendi na Alemanha, o que dá cenas um bocado gagas, porque os alemães não gostam de reinventar a roda quando a que já está inventada ainda funciona muito bem. E esta deles (A de Anton, B de Berta, D de Dora...) sempre me pareceu inventada há milénios. E funciona lindamente, especialmente para quem a usa (o que não é o caso de uma certa pessoa que eu cá sei, que fica com os neurónios a mil à hora ao mesmo tempo que gagueja e se pergunta "ai, como é que se diz atãová em alemão?").  

Pensava que existia há milénios, mas não: bem enganada estava. Isto tem mudado muito, e pelos piores motivos. Mal chegaram ao poder, os nazis retiraram da lista todos os nomes que pudessem parecer judaicos. Anton em vez de Albert (suponho que seria por causa do Einstein), Dora em vez de David, Siegfried em vez de Samuel, Zeppelin em vez de Zacharias. 

Ypsilon deu lugar a Ypern (Ypres). Talvez por ter sido nesta região da Flandres que se estreou a guerra química (1915: o exército alemão atacou nesse campo de batalha com cloro líquido) e se usou o gás mostarda pela primeira vez (1917)?

O judeu Nathan - personagem de um dos livros mais importantes do iluminismo alemão, "Nathan, o sábio", no qual Lessing faz a apologia da tolerância - é transformado em Nordpol (Pólo Norte). No programa "ttt - titel thesen temperamente" explicam que esta palavra era muito importante para os nazis, pois afirmavam que a cor de pele dos arianos provava que eram oriundos do norte; mais diziam que os alvíssimos arianos vindos do norte trouxeram com eles o fogo, e foram avançando e obrigando os de pele escura a recuar para sul. Até que os judeus se meteram pelo meio e estragaram tudo...

(E nós admirados por no nosso tempo haver quem acredite que a terra é redonda. Por aqui se vê que no tempo da "quarta classe antiga" as pessoas também acreditavam em qualquer patranha que lhes quisessem impingir.) 

Em todo o caso: hoje em dia ainda estão em vigor muitos dos nomes que os nazis introduziram nesta tabela. Alguns foram mudados no fim da guerra, mas os nomes judaicos continuam apagados. 

De momento há uma proposta para trocar os nomes próprios por nomes de cidades alemãs. Mas eu gostaria que reintroduzissem os nomes judaicos e também alguns nomes de estrangeiros que vivem neste país. Por exemplo: bem podiam trocar o Heinrich do H por Helena. 

(Enfim, era só uma ideia...)

Piadinhas à parte: nomes de cidades não está mal, mas parece-me que seria muito mais interessante usar nomes alemães e estrangeiros para reflectir a realidade da sociedade alemã. Embora seja mais uma daquelas ideias que ninguém quereria pôr em prática, por temer exaltar ainda mais os ânimos. Que isto parece haver uma correlação directa entre o planeta cada vez mais plano e as cabeças cada vez mais quadradas...

1 comentário:

jj.amarante disse...

Eu na tropa aprendi o alfabeto fonético da OTAN que tenho usado de vez em quando, sobretudo para distinguir os ff dos ss que se confundem com muita facilidade em canais telefónicos. É engraçado que o documento, ensinado a milhões de pessoas, continua a ser oficialmente confidencial, segundo qi qye diz a wikipédia aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabeto_fon%C3%A9tico_da_OTAN