02 julho 2021

"Diana Spencer"

 




Durante alguns anos, apreciei o espectáculo e a pompa das touradas. Era uma coisa diferente, especial, toda uma arte, toda uma cultura, todo um mundo. Até ao dia em que não consegui mais ignorar o sofrimento do bicho.
A realeza é para mim como a tourada era: aprecio o espectáculo e a pompa. Toda uma arte, toda uma cultura, todo um mundo.
Mas a coisa complicou-se com a #Diana_Spencer, que mostrou o sofrimento que existe por trás do show: o touro profundamente ferido. Já não dá para ignorar.
Ainda não rejeito o show das monarquias como rejeito as touradas. Gosto muito de ver a encenação dos casamentos (e deslarguem-me, que aquilo passa-se tudo entre pessoas maiores de idade e eu não prometi a ninguém viver uma vida sem futilidades).
Já as crianças que nascem nessas famílias me lembram bastante os touros de lida: nenhuma delas escolheu estar ali. Pergunto-me até se não será um caso para a protecção de menores.
Adiante. A Diana Spencer trouxe sangue inglês àquela família de alemães, e alguma proximidade com os seres humanos àquela família de representantes. Era muita novidade junta numa pessoa só, e correu mal.
Foi aí, no mais fundo da crise, que a fibra de que Diana Spencer era feita se revelou em todo o seu esplendor: acossada, isolada, sozinha, doente, conseguiu ainda assim encontrar forças para levar a sua luz a quem precisava dela. Menciono apenas duas das áreas nas quais soube usar o seu lugar de privilégio e fama para mudar o mundo: o combate à estigmatização dos doentes com sida, e a tragédia dos territórios minados em África.
A naturalidade com que se aproximava dos mais carenciados marcou a casa real inglesa. O "touro ferido" conseguiu mudar algumas regras do show.


4 comentários:

Catarina disse...

Penso e sinto da mesma forma.

Jaime Santos disse...

Por todas as qualidades que seguramente tinha, cabe lembrar que Diana de Gales usou a imprensa como ninguém e depois pareceu de alguma maneira chocada (quem não o ficaria, claro!) quando o feitiço se voltou contra o feiticeiro e os paparazzi começaram a imiscuir-se na vida privada dos seus filhos.

Deve ter sido a pessoa que mais contribuiu para transformar a Monarquia no negócio de milhões e milhões que é hoje (a Firma, como lhe chama aparentemente a Rainha Isabel), embora a mudança tenha ocorrido muito antes, no final dos anos 60, com um documentário que a Rainha proibiu que voltasse a ser difundido (aparentemente a ideia de 'normalizar' a Família Real foi do Príncipe Filipe).

Confesso que não tenho grande paciência para os estados de alma dos super-ricos. Falamos de pessoas que passam metade do ano em férias e cujo 'trabalho' é inaugurar creches, fontanários e estar presentes em jantares protocolares chatos a fazer conversa de chacha com desconhecidos.

Nem sequer a reação da dupla Meghan-Harry me desperta grande simpatia, por muito detestável que seja o que a imprensa fez com eles. Não abdicaram dos seus privilégios para viver uma vida normal que lhes permitiria proteger os filhos. E quando falo em vida normal, não estou a falar de uma vida comum, meramente de uma longe dos holofotes.

Se os britânicos desejam continuar a assistir a uma tal feira de vaidades no cume do Estado, é lá com eles. Eu fico muito feliz por ter um D. Marcelo que em tempos de pré-pandemia distribuía mais beijinhos que esta gente toda junta se o tentasse e ainda nos salvou do pindérico que seria voltarmos a ter uma primeira dama (e noto que até votei na Ana Gomes).

Helena Araújo disse...

Jaime,
como é que a Diana usou a imprensa?
Quanto à metade do ano em férias: há tempos vi a agenda de trabalho dos membros da monarquia inglesa. Se bem me lembro, os do centro têm uns 800 ou 900 compromissos oficiais por ano. "Férias" é outra coisa.

Jaime Santos disse...

A autora é suspeita, mas creio que é 'a fair assessment':

https://www.washingtonpost.com/lifestyle/style/diana-and-the-media-she-used-them-and-they-used-her-until-the-day-she-died/2017/08/24/c98418ca-812d-11e7-b359-15a3617c767b_story.html

800 a 900 compromissos oficiais por ano... Se 'trabalharem' 200 dias, dá uns 4 por dia... Atendendo à natureza destes compromissos, não me parece exatamente impossível... Não imagino que sejam todos viagens ao estrangeiro...

Não tenho nada contra, se os britânicos não se importam de pagar por isso. A marca UK vende-se bem também por causa da Monarquia. Mas poupem-me aos estados de alma dos super-ricos. Trabalho é outra coisa...