(Bem sei que quem estava dentro do muro eram os de Berlim Ocidental, mas esta prisão tinha paredes convexas.)
Por coincidência, hoje vou festejar o aniversário de uma amiga no antigo corredor da morte, numa casa construída junto à cicatriz da cidade: trechos onde retiraram as paredes de betão, e transformaram em rua a antiga estrada dos guardas da fronteira.
(Os postes de iluminação ficaram, que já estavam no sítio certo - e são eles que nos lembram quotidianamente que aquela rua é diferente da outras.)
(Os postes de iluminação ficaram, que já estavam no sítio certo - e são eles que nos lembram quotidianamente que aquela rua é diferente da outras.)
Uma cicatriz de 160 km, que uma década após a queda do muro foi transformada no Mauerweg, o "caminho do muro": um circuito à volta da cidade, quase todo sobre a antiga faixa murada, que pode ser facilmente percorrido a pé ou de bicicleta, em etapas servidas pelos transportes públicos.
(Outra maneira de ir a Fátima ou a Santiago de Compostela.)
(Outra maneira de ir a Fátima ou a Santiago de Compostela.)
Penso no muro, e
logo me ocorre um dos momentos altos deste meu ano, quando descobri a
beleza das cerejeiras em flor numa alameda de quase 2 km de comprimento
em Teltow, e me espantei com a minha capacidade de passear extasiada e feliz ali mesmo onde antes se disparava a matar sobre quem passava. Contradições?
Em Berlim, vive-se paredes-meias com a História. E a alegria é possível, mesmo quando se habita nos cenários que testemunharam horrores, e em cada lugar nos é lembrado o que ali aconteceu. Talvez por isso mesmo: porque a memória de um passado terrível nos prova que nada é para sempre. De certo modo, esta cidade indómita é também uma "cidade das luzes" - iluminada por tantos que em cada época lutaram e arriscaram a
própria vida para pôr algum travão às injustiças dos poderosos, e nos confirmam a esperança de que "há sempre uma candeia / dentro da própria desgraça / há sempre alguém que semeia / canções no vento que passa".
2 comentários:
Que bom ter-te de volta! já estava a pensar que ficaríamos para sempre parados na Diana Spencer
Estava de férias. :)
E que bem sabe fazer férias longe da internet.
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