Hoje trago da Enciclopédia Ilustrada um post escrito por Fernando Gomes, a propósito do tema "intervalo":
"UM OLHAR DE ÓDIO
O fotógrafo Alfred Einsenstaedt nasceu na Prússia no fim do século XIX. Com 17 anos, ingressou no exército alemão e combateu na Primeira Guerra Mundial, tendo sido gravemente ferido nas pernas em 1918, com 20 anos.
Estas duas fotos, por ele tiradas em Setembro de 1933 numa cimeira da Sociedade das Nações realizada em Genebra, retratam o mesmo homem, Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. As expressões são completamente diferentes, apesar dos poucos minutos de #intervalo entre ambas. É que, entretanto, Goebbels recebera uma informação preciosa: a de que o fotógrafo tinha sangue judeu.
Mais de uma década depois, no dia seguinte ao do suicídio de Hitler e Eva Braun, Goebbels e a sua mulher teriam o mesmo fim, não sem antes terem ordenado a um médico das SS que envenenasse os seus seis filhos: Helga, de 12 anos, Hildegard, de 11, Helmut, de 9, Holdine, de 8, Hedwig, de 6 e Heidrun, de 4; todos com nomes começados por H, em honra do amado führer.
Poucos meses após a morte de Goebbels, Einsenstaedt tiraria a fotografia mais famosa da sua carreira: um marinheiro a beijar um enfermeira em Times Square, aquando da rendição do Japão.
Mais acima, adjectivei de preciosa a informação passada a Goebbels acerca de Einsenstaedt. E porquê? Porque foi graças a ela que hoje temos o registo fotográfico deste olhar de ódio. Um ódio visceral e irracional pelo outro, sem qualquer justificação que não seja odiar por odiar. Por mais que custe, este é um olhar que temos a obrigação de não esquecer."
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