Lembra-me o facebook que há um ano andava a tentar adaptar-me ao clima da Bretanha e ao segundo mês de medidas drásticas de confinamento.
Tinha de ir à rua (fazer compras, e aproveitar a saída para a tal voltinha num raio de 1 km à volta de casa, para mexer um bocadinho o esqueleto) mas como o tempo na Bretanha muda a cada cinco minutos, estava sem saber se me devia vestir para inverno ou para verão.
(De facto, o que é espantoso é os bretões conseguirem escapar ao pijama de manhã: como saberão eles qual é a roupa mais adequada para o dia?)
Sugeriram-me que vestisse tudo, de modo a estar preparada para o que desse e viesse. Segui o conselho à risca - vestido de verão, casaco comprido de penas, cachecol e gorro na carteira, porque nunca se sabe - mas surgiu mais uma dúvida existencial: botas de cano alto ou sandálias?
Finalmente, já vestida e calçada, dei-me conta de que a vontade de ir à rua se tinha volatilizado: aquela coisa de ter de usar um lenço de papel para abrir as portas do prédio, e a seguir deitá-lo fora com muito cuidado, e mais isto e mais aquilo...
A verdade é que apenas um mês depois de ter começado a crise da covid, já estava habituadíssima a estar em casa. Não tinha paciência para todos os cuidados que era preciso ter nos espaços públicos.
Além disso, tinha algumas garrafas de vinho vazias para deitar no vidrão, e não sabia que é que os vizinhos iriam pensar de mim: de vestido de verão, casaco de inverno, sandálias, e várias garrafas de vinho na mão...
(Um amigo do facebook comentou: "quando os vizinhos virem as garrafas de vinho, vão compreender a indumentária..." - ainda hoje me lembro da gargalhada que me provocou.)
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