Esta semana o Fox está connosco, porque o Matthias está a fazer exames online e dá pouco jeito ter o cão ao lado a ladrar. Portanto, preparem-se: vai haver relatórios quotidianos das pocinhas cá da zona.
O primeiro passeio de hoje já nos deu bastantes surpresas.
Ao chegar ao lago, fomos testemunhas de mais uma daquelas típicas cenas primaveris de paz e amor: um cisne perseguia um ganso-bravo. O ganso-bravo deu uma leve agitadela de asas, elevou-se um pouco acima da água, e ganhou distância de segurança. O cisne perdeu o interesse neste inimigo, e deslizou majestosamente para o seu canto habitual - que por acaso é no extremo oposto do lago. Anda muito territorial, o bicho.
Nós fomos atrás dele, mas por terra. De caminho descobri uma garça escondida com o rabo de fora. Enquanto a filmava, ela deve ter visto algo com aparência comestível na água, mas deixou ir. Já eu, deixei-a ficar - porque se tentasse filmá-la até ela finalmente atacar o seu pequeno-almoço, arriscava-me a ganhar o concurso da mulher estátua de Berlim. O que estes bichos demoram antes de decidirem o que vão comer!
Mais à frente cruzei-me com homens que andavam a limpar o parque. Suponho que sejam medidas de ocupação para desempregados de longa duração, e que ninguém leve isso muito a sério. Nunca vi algum deles realmente preocupado com o trabalho e a produtividade.
Ao chegar ao canto onde costumam estar os cisnes encontrei um homem nu. Não tem que admirar: fazia 5 ou 6 graus centígrados, e um solzinho que era um luxo. O homem andava dentro da água com luvas de borracha a apanhar as garrafas que tinham atirado para o lago, e ia-as pondo no murete da margem. Muito bem alinhadas, com o azul do lago por trás e em contraluz, teriam dado uma fotografia engraçada. Mas também apanhava o garboso jovem em pelota, e tive um certo pudor.
Enquanto estava por ali a decidir se fotografava ou tudo ou nada, o palerma do Fox foi a correr ter com dois cães que vinham à trela, enrolou-se com um deles, eu fui o mais depressa que pude tentar desenrolá-los, a dona dos cães tentou afastar-se da cena puxando-os pela trela - e acabou a cair por cima deles. Ai! Por sorte ninguém se magoou, só o meu amor-próprio de responsável/irresponsável por um cão maluco. Pus-lhe a trela, e vim a ralhar com ele durante metade do caminho para casa. Parecia a parábola do homem a quem perdoaram uma dívida: a senhora que caiu não ralhou comigo, mas eu, em compensação...
Começa bem, a nossa semana.
O rapaz, entretanto, tinha posto as garrafas junto a uma árvore, e já ia a nadar a meio do lago. Fiquei a pensar porque será que os cisnes não atacam os humanos que se atrevem a invadir o seu território. Ainda bem que não atacam, como é óbvio, mas já várias vezes os vi armados em pacifistas quando passam perto dos humanos que lhes invadem o território.
Regressei a casa. Cruzei-me de novo com os apanhadores de lixo, que estavam agora sentados num banco de jardim a gozar o sol matinal e a controlar o que se passava nos seus telemóveis. Resisti à tentação de os informar que se quisessem podiam apanhar as garrafas partidas que o nudista juntara.
Ao chegar a casa, o Matthias telefonou. O primeiro exame correu bem, e está cheio de saudades do Fox. Resisti à tentação de o informar que eu cá já não tenho saudades nenhumas...
2 comentários:
em que língua falas com o Fox?
Em português, claro.
Só para dar certas ordens é que falo em alemão. O alemão é melhor para dar ordens... ;)
E há uma ordem em português que na rua só podemos dizer em surdina: "fica". É demasiado parecido com "fick" ("fuck" em alemão).
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