30 março 2021

okupas



Era dia par: o nudista não apareceu. O lago parecia deserto - e eu aliviada, porque mais uma vez me esquecera da câmara fotográfica. 

Mas eis que do nada aparece uma garça, e se pespega em cima de hastes frágeis onde nunca costuma pespegar-se. Roída de fúria por não ter comigo a câmara, tirei as fotografias possíveis com o telemóvel-pós-jurássico-mas-mesmo-assim-pré-histórico.

No ninho que o galeirão tem andado a fazer com tanto esforço encontrei uma pata feita okupa. Ai ele também há disto entre os animais?

Piores okupas ainda foram os jovens finalistas que ali tinham estado a festejar no dia anterior: além da barulheira que fizeram, deixaram o parque num estado lastimável, com garrafas e cacos de vidro no chão, e lixo por toda a parte - inclusivamente na margem do lago junto ao ninho. 

Ia dizer "se é isto a futura elite da Alemanha..." mas calei-me a tempo, porque frases dessas nos põem vinte ou trinta anos em cima como por magia, e eu ainda sou demasiado nova para parecer uma velhota rezingona. 

Quando lá voltei à tarde encontrei três raparigas a juntar as garrafas de vidro para deixar junto do caixote do lixo.
As raparigas, sempre as raparigas... 
Em termos de elite, parece que é assim: elas mostram solidariedade ao cuidar dos rapazes que beberam demasiado, elas mostram consciência e responsabilidade ao corrigir os erros cometidos pelo grupo, mas o mais provável é que sejam eles - os que bebem mais do que aguentam, os que partem garrafas de cerveja num parque, os que urinam por ali em vez de irem à casa de banho pública que fica a 100 metros - que chegarão aos postos de chefia. 

Entretanto, seja por culpa da pata, seja por culpa dos finalistas do liceu: nunca mais vi os galeirões de volta daquele ninho. 






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