Na semana passada, Berlim teve seis dias que mais pareciam as noites brancas de São Petersburgo. Ou San Francisco no Verão.
(Isto sou eu a tentar dar a volta por cima, para não me deixar deprimir por tantos dias seguidos de um céu muito denso em tons de branco escuro.)
Ontem o sol deu um ar da sua graça. Reparei, porque de repente havia sombras à minha volta.
(Se calhar já arrumava a decoração de Natal) (Emboramente: à velocidade a que o tempo avança, mais me valia deixar ficar tudo como está, que o próximo Natal já vem ali praticamente à esquina da Páscoa)
Tudo o que tinha para fazer passou para segunda prioridade, e fui apanhar um bocadinho de vitamina D pelo nariz, que era praticamente o único bocado de pele que tinha à vista.
Queria fotografar dois lagos, mas primeiro passei pela padaria. Depois resolvi ir investigar caminhos novos do bairro, e dei comigo em frente à residência do Embaixador da Grã-Bretanha.
"Aaaah, então foi aqui que a rainha de Inglaterra esteve quando passou pela esquina da minha rua...", pensei eu, lembrando-me da vizinha que se lamentou por não ter ido fazer uma pequena espera ao seu cortejo. "Que eu nem sou nada disso", acrescentou, "mas quando a rainha de Inglaterra passa nas traseiras da tua casa, e não há ninguém na rua para te tapar a vista..."
Estava eu parada a olhar para o jardim do embaixador e a pensar nestes dilemas da vida, quando uma senhora se aproximou: "Ainda agora nos vimos na fila da padaria, não foi? Se precisar de alguma informação..."
Antes que pensasse que eu era uma republicana a tentar atacar a monarquia, disse-lhe logo que me estava a orientar para chegar ao lago, e ela apontou-me o caminho.
(Aviso a quem quiser fazer alguma ilegalidade sem ser reconhecido: não é boa ideia ir primeiro à padaria)
Dali ao lago era um saltinho. Infelizmente, todas as pessoas daquele bairro que têm cães resolveram ir apanhar vitamina D para o mesmo lugar que eu. Tive de pôr a máscara (adeus, sol na pele) e começar a andar aos ziguezagues entre as pessoas e as árvores (nem umas nem outras se desviavam). Encontrei uma família de cisnes que tinham um filho ainda jovem (em Janeiro?! era suposto já estar suficientemente grande para largar rumo ao sul a meio do Outono passado...), e mais uma dúzia de patos. Além de cães de todas as raças. Javalis, é que nem vê-los (tanto melhor).
Depois o sol foi de férias outra vez e eu regressei a casa pela penumbra, mas apesar de tudo contente: nem que venha por aí outra semana de dias como noites brancas, estes bocadinhos de sol já ninguém mos tira.
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