O folhetim "concurso de Natal" teve um final feliz: ao sétimo dia, a jovem prima vencedora do concurso escreveu à família a dizer que queria partilhar a sua caixa de espumante com todos os que não tinham recebido um único voto.
(Estes miúdos comovem-me.)
O Harald Martenstein, que tem lugar cativo numa das primeiras páginas da revista do semanário Die Zeit, escreveu uma crónica onde falava dos seus dois melhores momentos de 2020, que foram estes:
- o minuto em que um esquilo parou do lado de fora da janela, mesmo junto à mesa onde ele estava a escrever, e ficou calmamente a roer uma noz que segurava entre as patinhas;
- o dia em que foi ao centro da cidade trocar a pilha do relógio, e ia maldisposto e preparado para filas sem fim, confusão e frieza generalizada, e afinal não havia ninguém à frente dele e o senhor que o atendeu era muito simpático, elogiou a beleza do relógio, disse "por favor, espere um momentinho, isto resolve-se já" e no fim desejou-lhe um bom ano.
Fiquei a pensar como será a vida do Harald Martenstein, para estes serem os dois melhores momentos do seu ano. E também a pensar que - se houver muitos como ele - é facílimo melhorar o índice de felicidade nacional: um pequeno elogio, algumas palavras delicadas, alguma atenção à pessoa que temos à nossa frente.
(Isso, ou enfiar um fato de esquilo e pôr-se em frente às janelas a roer nozes)
Fomos dar uma grande volta a pé até ao lago de Grunewald. Encontrámos uma garça-real parada à espera que o almoço lhe passasse à frente. Lembrou-me os clientes dos restaurantes de sushi com sistema de barquinhos ou tapetes rolantes que transportam composições diferentes: sentados ao balcão, ficam parados a mirar atentamente, e de repente atacam com um golpe certeiro o peixe que lhes interessa.
(Se um dia abrir um restaurante de barquinhos de sushi, vou-lhe chamar "Garça-Real" em homenagem a esses clientes.)
(Ainda nem eram cinco da tarde.)
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