28 dezembro 2020

o quinto dia do nosso Natal 2020



Isto está mais complicado que as eleições nos EUA: ainda não se decidiu que somos nós os vencedores do concurso "decoração de Natal". Estou a pensar abrir uma conta de twitter, @real_winner_of_Christmas, para começar a agitar as redes sociais a meu favor. 

Parece que vão repetir as eleições. Da próxima vez convidem o Lukaschenko para presidir à comissão eleitoral, caramba! 
(Ai, eu não disse isto) 

O melhor presente de Natal que recebi este ano foi uma caixa de papel dourado com um punhado de batatinhas azuis, muito bem apresentadas e embrulhadas com uma fita de veludo. Veio da - digamos assim, para simplificar - sogra do Matthias, que decidiu passar o resto da vida numa quinta comunitária na Floresta Negra. Em vez de se deixar ir andando, ou de começar a pensar num lar de terceira idade, juntou-se a um grupo de pessoas que têm o projecto de envelhecer juntas numa quinta comunitária o mais possível auto-suficiente, e com alguma mistura geracional. As batatas são da produção deles. 

Este projecto é muito interessante, mas, pensando bem, não tem nada de realmente novo. De facto, estas pessoas regressaram ao mundo dos meus avós. Há cinquenta anos, ainda era assim que as pessoas envelheciam: em comunidade rural multigeracional e com redes de auto-suficiência, cooperação e solidariedade. 


E por falar em avós: uma amiga partilhou no facebook uma gracinha sobre como pôr a mesa hoje em dia, e - à parte a máscara e o desinfectante - era tal e qual como na casa da minha avó paterna, quando iam buscar a louça e os copos de cristal do baptizado do meu pai, e os pousavam sobre a toalha de linho tecida por uma antepassada cem anos antes. Na nossa mesa havia mais copos - o nº14 da imagem eram dois: o cálice de Porto e um outro, lindíssimo de tão pequenino, para o licor. E mais os talheres de prata, e mais a sopa que vinha na terrina dos trezentos anos (pelo menos era o nome que lhe davam) e etc. etc. etc.

No final do jantar, ia tudo para a cozinha, e a Bina e a Ana lavavam aquelas preciosidades todas numa gamela de madeira pousada sobre a dala de granito irregular, com água que traziam do poço em cântaros de barro e aqueciam no pote de ferro sempre a postos à lareira. 

Entre o luxo da sala de jantar e o rústico da cozinha havia apenas uma porta. Uma porta dupla, mas mesmo assim uma simples porta a separar mundos tão opostos. 

(E nem vou mencionar a parte de não podermos ler na cama à noite, porque a electricidade era muito cara.)


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