A caminho do supermercado cruzei-me com um grupo de rapazinhos que vinham a pedalar furiosamente as suas bicicletas, demasiado depressa e demasiado próximos uns dos outros. Alegre algazarra - o costume de miúdos nesta idade.
Achei perigoso, mas pensei "ao menino e ao borracho, põe-lhes Deus a mão por baixo" e decidi não stressar. Daí a nada ouvi gritos nas minhas costas, guinadas, catrapum. Olhei: dois deles estavam no chão, com as bicicletas meio por cima deles. Daí a nada ouvi novos gritos: era a mãe de um deles, também de bicicleta mas ainda bastante longe, a ralhar: "vocês são parvos ou quê?! isso é lá velocidade! caramba!"
Lembrei-me de um texto que a Christina me leu há muitos anos, que vinha no livro da escola primária. Era sobre duas crianças que caíram ao chão, e as respectivas mães - uma gritou "és parva ou quê? eu não te avisei?" e a outra correu para a criança e disse "oh, coitadinha! magoaste-te?"
Bem sei porque é que a Christina me leu aquela história, e ando há vinte anos a pensar que sou uma mãe horrorosa. Por isso, hoje, quando ouvi a outra aos gritos desatei a rir, muito consoladinha.
Chama-se a isto nivelar por baixo, e ainda me arrisco a passar os próximos vinte anos com vergonha de mim hoje...
PS: Tinham todos capacetes, nenhum se magoou a sério.
2 comentários:
Tinha, pré-pandemia e fecho generalizado de parques infantis em Portugal, o hábito de ir praticamente todos os dias ao parque infantil com o meu miúdo. Dos outros pais ouvia muita vezes o típico "olha que vais cair" e revirava os olhos (eu tento que seja mentalmente mas às vezes é difícil controlar os globos oculares). Ali, dizia-lhe sempre "presta atenção e segura-te bem", avisos que sempre me pareceram muito mais úteis. Na maioria das outras situações, no entanto, sou mesmo o retrato do que as mães não devem fazer nem dizer aos filhos...
Hahahaha
Somos todas anti-exemplos. :)
A propósito disto, a melhor frase que ouvi a uma mãe foi a resposta ao filho, que perguntou se podia subir a um muro:
"Se achas que consegues, podes."
Excelente: obriga o miúdo a medir as suas próprias capacidades e a ser senhor das suas decisões.
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