A casa que estava na internet por 4 milhões foi vendida, e os novos donos começaram as obras habituais quando alguém compra uma casa na nossa rua por preços desses. Já sabemos: as casas de banho, por muito novas que sejam, vão todas à vida. A cozinha, idem. E a seguir é a vez do jardim.
Por azar, as obras do jardim começaram às sete da manhã da segunda-feira da semana que os vizinhos do lado tinham escolhido para gozar férias em casa. Eles a quererem dormir, e o martelo pneumático a rebentar o terraço, trrrrá-trrrrrá-trrrrrrá-trrrrrrá.
Na terça-feira, o mesmo. Na quarta, também.
Na quinta-feira, um deles foi perguntar aos proprietários quanto tempo é que iam demorar aquelas obras. No sábado, os donos da obra estavam a bater-lhe à porta para oferecer uma garrafa de champanhe e pedir o favor de alguma paciência.
"'Tá bem, 'tá bem", disse a vítima, agradeceu, foi para dentro, largou a garrafa em cima da mesa da cozinha e continuou a trabalhar na burocracia que tinha em mãos.
À hora do jantar mandou uma fotografia da garrafa a uma amiga que é grande apreciadora de champanhe. "Conheces esta marca?" A resposta veio imediatamente: "SABES O QUE TENS AÍ?!" "Não. A avaliar pela caixa de madeira, não deve ser mau..." Era uma garrafa não-sei-quê que custa mil euros.
Mil euros.
O vizinho contou-nos ontem a história, e eu sugeri-lhe logo que a vendesse na ebay. Mas depois caí em mim, e concordámos todos que ele não precisa desses mil euros, e provavelmente nunca mais na vida vai ter a oportunidade de beber um champanhe desse preço. Mais vale convidar os amigos que são apreciadores, e passarem um serão de memorável decadência.
Agora estou a pensar se vou tocar à campainha dos vizinhos novos e lhes digo que o barulho também me incomodou imenso.
(É que incomodou mesmo! Imenso.)
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