12 agosto 2020

sputnik-v

Ontem o noticiário Heute Journal abriu com a notícia da nova vacina russa.
Vou traduzir a peça (que podem ver aqui, em alemão) só para tentar mostrar porque é que tenho um caso de amor com o Klaus Kleber - e também para dar a perspectiva de um noticiário alemão sobre o caso.

"Boa noite. A propósito do corona, o presidente Putin puxa todos os registos dos triunfos russos. À nova vacina contra a covid-19, que hoje anunciou ao mundo, deu o nome de Sputnik-V. "V" de vírus; e "Sputnik" como o pequeno satélite que, em 1957, foi o primeiro objecto que os humanos conseguiram colocar em órbita. Um sucesso da URSS na altura em que nos campos de lançamento dos EUA os foguetes ainda se limitavam a rebentar em todas as direcções.

Um choque para o arrogante mundo ocidental de então. Hoje seria uma bênção para o mundo... se a vacina Sptunik-V fizesse aquilo que o presidente Putin promete, mas de facto não pode saber, porque simplesmente permitiu que se passasse ao lado de testes essenciais."

Segue-se uma reportagem de Dara Assamzadeh: "Sputnik significa "companheiro de caminho". A vacina Sputnik-V deve salvar a humanidade da pandemia do corona vírus. A partir de Outubro, a Rússia quer vacinar em grande escala: primeiro os médicos, depois os professores. Se a vacina resultar, um Estado que vive do gás e do petróleo seria catapultado para novas esferas. [ Putin ]: "Esta manhã foi autorizada a primeira vacina contra a infecção do corona vírus. Sei que funciona de forma eficaz, e cria uma imunidade estável. E, repito: passou por todos os testes necessários." A vacina foi desenvolvida em Moscovo pelo Gamaleya, Instituto Estatal de Epidemiologia, que já em Maio anunciava resultados positivos nos testes. Em início de Agosto informaram que os testes necessários tinham sido concluídos, mas não publicaram os resultados. Por esse motivo, já há uma semana começaram a surgir dúvidas em relação a este estudo, e alguns cientistas russos criticaram-no severamente. [ Cientista russo ]: "O que estão a criar agora é algo absolutamente novo. Ainda não há vacinas destas. Não sabemos como é que o vírus se comporta, nem como é que se propaga. Não sabemos quanto tempo é que resiste à imunidade." O standard internacional para os testes às vacinas prevê três fases: 1. Tolerância 2. A dosagem possível e a resposta possível do sistema imunitário Nestas duas fases já se reconhecem os riscos possíveis da vacina. 3. Fiabilidade da protecção e eficácia. Normalmente os testes são feitos em pelo menos 4.000 pessoas. Na Rússia não chegaram a 100 pessoas - entre elas, uma filha de Putin. [ Prof. Klaus Cichutek, presidente do Paul-Ehrlich-Institut ]: "Alertamos para uma autorização prematura, porque os testes normais ainda não foram realizados. Nos próximos meses haverá muitos outros produtos autorizados em diversas regiões do planeta." Parece evidente que na Rússia deixaram de lado a última fase do teste da vacina, que exige muito tempo, e ninguém sabe - nem mesmo no Kremlin - como é que a vacina funciona. Putin é o primeiro governante que sujeita o seu povo a este risco. Seja para ganhar a corrida global para a vacina, seja por pressão de um sistema de saúde desgastado e um sistema económico frágil. Os russos vão ser submetidos a uma experiência." [ Entrevista com Bodo Plachter, virologista da Universidade de Mainz ]: - Putin praticamente salta por cima da terceira fase, o que lhe permite poupar muito tempo. O que é que se perde no meio disto?
- Esta fase é importante para testar a eficácia da vacina. Sem ela, pode criar-se uma falsa sensação de segurança. Além disso, nesta fase são estudados os efeitos colaterais, que podem ser de molde a inviabilizar o uso da vacina. Isso está a faltar. Também está a faltar a transparência e portanto poderá faltar a aceitação por parte da população, que terá dificuldade em deixar-se vacinar com este produto sabendo que falta a terceira fase do estudo.
- Tendo em conta o alcance desta epidemia, em termos da vida e da saúde de muitas pessoas, e das consequências do lockdown, será que podemos fechar um olho e deixar passar estas irregularidades nos testes? - É preciso provar que esta vacina é eficaz, o que ainda não foi feito. É preciso ver se a Rússia vai fazer realmente os testes que faltam. Aqui seria muito difícil autorizar a vacina nesta fase.

- Mas se uma pandemia se apresenta de forma tão ameaçadora (estou a tentar apresentar a posição contrária) e nos damos conta de que há alguma protecção, talvez não 100% ou 95%, mas em todo o caso 70% ou 75%, já se ganhava alguma coisa...
- Seguramente. Também não quero duvidar da eficácia da vacina, mas esta tem de ser testada como todas as outras que estão a ser produzidas neste momento. Esta vacina não se antecipa às outras. Na realidade, os outros produtos que estão a ser testados já estão a ser produzidos em grandes quantidades, para estarem disponíveis para as populações mal os respectivos testes cheguem ao fim com resultados positivos.
- Isso significa que não inveja os seus colegas russos por já estarem a pôr uma vacina no mercado? - Na realidade, eu teria muitos pruridos em passar essa receita. - A Rússia escolheu esse caminho. Se tudo correr bem, é um ganho para o mundo inteiro. Mas o risco seria demasiado alto para nós. "

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