06 julho 2020

"Douro" (4)



Na linha do Douro há uma estação chamada Alegria.
A verdade é que, para quem passa feito turista - como eu -, Alegria é o nome do meio de todas as estações da linha do #Douro.
O próximo almoço da Enciclopédia bem podia ser lá - que dizem? Saímos de Porto-São Bento, a estação com magníficos azulejos (íamos meia hora antes, para os doutos colegas tecerem considerações sobre aquelas cenas), e fazíamos a linha do Douro até à penúltima estação: Mós - Freixo de Numão. É a que fica a seguir à Quinta do Vesúvio (sim, a estação do Vesúvio é sobre a Quinta, junto ao rio - uma paisagem digna de um filme do Manoel de Oliveira...). Dávamos um mergulho no rio, que ali faz uma curva larga no meio da vinha, e depois almoçávamos no restaurante Bago d'Ouro: peixinhos do rio e naco de vitela (eu telefono sempre a pedir puré de batata - o puré de batata daquela cozinheira de Freixo de Numão é quase como o arroz de favas de Tormes).
Se tivermos sorte, no fim dão-nos um cesto de figos da terra.
Depois do almoço voltamos de comboio até ao Tua, e daí descemos em barco rabelo até ao Pinhão. Devagarinho, a saborear o rio.
Estão abertas as inscrições.

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Quando soubemos que iam fechar o último troço da linha do Douro, meti-me com os meus irmãos no comboio, num sábado de manhã, e fomos até à fronteira espanhola, em Barca de Alva. Almoçámos no restaurante da estação as inevitáveis febras com batatas fritas a escorrer óleo, e havia galinhas que entravam e saíam à vontade, depenicando o que encontravam no chão e deixando em troca o que lhes aprazia, passe o eufemismo.
Foi há trinta anos, ainda a ASAE não tinha começado a modernizar o país com mão de ferro.
Apanhámos o mesmo comboio de volta, eu de olhos escancarados e o cérebro a mil, sonhando para aquelas quatro ou cinco estações um aproveitamento turístico ligado por ciclovia, sei lá. Na altura era muito visionária. Hoje em dia, isto era bem capaz de se vender a bom preço às gentes que querem fazer férias para parar realmente. Passe a contradição de usar estações e linha de comboio para "parar realmente".
Ai, isto não é uma contradição, é uma triste metáfora do que aconteceu às ligações ferroviárias do interior do país...


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