17 maio 2020

"gramofone"




O Joachim andava há que tempos a sonhar com um #gramofone. Viu uma loja deles em Dresden, e desde então tinha aquele sonho. Mas eram caríssimos. Ele fazia as contas: se juntasse o presente dos anos, mais o do Natal, mais o da Páscoa...

Andavamos nisto até que, no outono passado, fizemos uma viagem à Holanda para o encontro habitual da família. A passear numa cidadezinha amorosa chamada Zierikzee, entrámos por mera curiosidade numa loja de velharias. Em cima de um armário descobrimos um gramofone. Ou se calhar foi ele que nos descobriu a nós, porque estava ali a rir-se, muito simpático, todo oferecido. O dono da loja garantiu que funcionava sem problema. E uma das primas comentou que tinha visto uma loja de discos antigos duas ruas à frente.

Eu disse ao Joachim: faz de conta que é Natal. Enquanto ele ia em busca dos discos, eu comprei o gramofone e vim esperar para o meio da praça central de Zierikzee, onde de um momento para o outro me vi rodeada de pessoas fascinadas a sorrir imenso e a fazer perguntas.
(Nota mental: um dia que me sinta sozinha e triste, basta-me ir passear o gramofone um bocadinho.) 

De regresso a Berlim, o Joachim descobriu uma oficina de gramofones, onde comprou um saco de cem agulhas, porque é preciso mudar da agulha ao fim de cada disco ouvido. O dono da loja disse-lhe que o nosso gramofone é uma mistura de peças de vários aparelhos diferentes (aha! por isso foi tão mais barato que os de Dresden!), mas nós continuamos a gostar muito dele.

Está empoleirado ao cimo das escadas, e usamo-lo para pôr à prova a amizade de quem nos visita: quem aguentar aquele som estridente até ao fim - especialmente quando começa a perder o ritmo e fica ainda pior -, é amigo do peito e para a vida toda.


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