(Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo)
(Foto © Renascença)
Provavelmente fui a última pessoa a dar-se conta desta entrevista excelente com o D. António Marto (aqui), mas paciência: quando é para ter alegrias, mais vale tarde que nunca. E esta entrevista só me deu alegrias: o cuidado que ele teve de, ao falar sobre as celebrações em Fátima, reconhecer que há uma diferença entre estas e as comemorações do 25 de Abril e do 1º de Maio; a preocupação de garantir o pagamento dos salários dos funcionários; a firmeza com que assumiu que a Igreja tomou as suas decisões sem ser pressionada pelo governo; a simplicidade com que explicou a sua posição: "Eu não queria ficar na história como o bispo responsável pelo agravamento da pandemia a nível nacional".
Aqui está, em toda a sua grandeza, um exemplo do que deve ser um cristão: o respeito pela vida humana e o uso da palavra para construir a paz entre as pessoas.
Impedidos de ir a Fátima, muitos católicos acenderam velas junto às janelas da sua casa, ou acenaram com lenços brancos à imagem da Virgem que algumas paróquias levaram em carrinhas pelas ruas do bairro. Não é o mesmo que ir a Fátima e tomar parte num momento de transcendência com muitos milhares de pessoas. Mas é, ainda assim, participar numa ponte entre a vivência pessoal da Fé e um espaço simbólico de celebração comunitária.
Por sua vez, os muçulmanos também tiveram de tomar decisões muito difíceis. Como informa o Sete Margens, a mesquita de Lisboa decidiu permanecer fechada mesmo no período do Ramadão - o mês sagrado dos muçulmanos.
Infelizmente assistimos - e não apenas em Portugal - a alguns episódios entre o triste e o ridículo: reacções com tiques de luta de poder nuns casos, egoísmo puro e duro noutros casos, e ainda algumas situações nas quais a empatia e a atenção às necessidades das pessoas levou alguns responsáveis a perder a noção do risco em que estavam a colocar terceiros.
Mas o panorama geral que o mundo religioso português me dá durante esta crise é o da grande maturidade dos crentes e dos representantes das organizações religiosas, bem patente nas decisões que tomam e nas declarações que fazem.
E isso tem de ser dito.
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