09 abril 2020

"Dietrich Bonhoeffer" (3. Bonhoeffer e a Igreja Confessional)

Muito rapidamente, porque estou longe de ser especialista neste assunto: o regime nazi tentou apropriar-se das Igrejas, retirando-lhes importância e influência, e servindo-se delas para propagar a sua própria ideologia. A Igreja Confessional foi um movimento de resistência a estas políticas. Um dos seus primeiros líderes foi o pastor Martin Niemöller, que todos conhecem por causa do texto "quando vieram buscar os comunistas eu não disse nada, porque não era comunista..."

Este texto sintetiza brilhantemente o percurso algo errático da Igreja Confessional, que demorou muito tempo a entender que o seu dever de protecção se estendia a todo o povo, e não apenas a si própria. Naqueles tempos de terror e perplexidade não era fácil ver, e muito menos agir em conformidade com os valores atacados pela ideologia nazi. Pelo que a Igreja Confessional foi em simultaneamente perseguida pelo regime e frequentada por nazis e até SS. O próprio Niemöller fora desde 1924 adepto do partido de Hitler, e saudou a sua chegada ao poder em 1933.

Quando a perseguição aos judeus começou, em 1933, Dietrich Bonhoeffer e Martin Niemöller (que, sendo embora adepto do partido nazi, defendia ferozmente a independência da Igreja) fundaram uma Liga de Apoio aos Pastores de ascendência judaica, contra a nova imposição de os afastar dos púlpitos. Esta e outras iniciativas de defesa da independência eclesial viriam a evoluir para a Igreja Confessional, que se formou em Maio de 1934, com a declaração de Wuppertal-Barmen, que punha Cristo no centro da Fé da Igreja, livre de instâncias e critérios alheios, e recusava a apropriação do Evangelho para fins políticos totalitários. Era essa a matéria de discórdia entre a Igreja Confessional e os Cristãos Alemães (as Igrejas que se sujeitaram à Gleichschaltung).

Em Abril de 1935, depois de uma curta visita a Mahatma Gandhi, Bonhoeffer tornou-se professor no seminário de Finkenwalde, da Igreja Confessional. Foi aí que aprofundou a sua convicção de que a Igreja, mais do que uma comunidade de almas, é realmente o corpo de Cristo presente na terra.

Nas palavras de Wolfgang Huber (sublinhado meu): "O efeito de modelo de Bonhoeffer tem sem dúvida a ver com o facto de, no seu caso, a história de vida e a teologia estarem intimamente ligadas. No centro desta estreita ligação está o momento em que realmente descobre o Sermão da Montanha. Ainda antes da tomada do poder por Hitler, numa fase da sua vida em que a eficácia académica estava em primeiro plano, o Sermão da Montanha tocou-o de uma forma inédita. Esse encontro fez dele, como diria mais tarde em tom de autocrítica e demarcação de fases anteriores da sua vida, um verdadeiro cristão. E, ao mesmo tempo, deu à sua atitude ética a clareza que já vinha a fazer caminho dentro dele. O compromisso com a Justiça e a Paz tornou-se o motivo básico determinante, e com este a convicção de que o princípio orientador da ética cristã não é a pureza imaculada da própria consciência, mas a responsabilidade concreta pela vida e pelo futuro de outras pessoas."



2 comentários:

Professora Bibliotecária disse...

Bom dia Helena. Muito obrigada por esta partilha extraordinária! O mundo não pode esquecer estes HOMENS! Seria uma injustiça irreparável!

Helena Araújo disse...

Uma injustiça, e sobretudo um empobrecimento para nós. :)