Em conversa com um amigo alemão quase deixei escapar que penso com pena nas minhas amigas portuguesas que por estes dias estão em casa com crianças pequeninas. Mas - felizmente - calei-me a tempo. É que a sociedade alemã que eu conheço desde há 30 anos esperava (e espera) isso de todas as mães. Muitas das minhas amigas alemãs largaram tudo para ficarem dia e noite com as suas criancinhas até estas fazerem três (ou seis, ou dezoito) anos. Aquilo que muitas famílias portuguesas se vêem obrigadas a fazer em tempos de covid-19, e tanto custa, é algo que muitas alemãs fazem pelo menos até o filho mais novo ter três anos.
Espero que esta revelação sobre o sofrimento das mães alemãs ajude os portugueses a criar uma espécie de empatia com aquele povo, no qual tantos tanto gostam de bater.
(Sim, bem sei que vão dizer que ninguém as obriga, e que ninguém as manda ser parvas, etc.
Pffff, calem-se, que não percebem nada de idiossincrasias sociais. Eu bem me lembro dos argumentos "a criança precisa da mãe em casa", "o meu filho há-de ser educado por mim e não por um estranho qualquer!" e "há que escolher entre fazer carreira ou ter família".)
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Fui comprar sabonete e - pronto, confesso: - gateau breton. No caminho para o supermercado vi dois homens jovens que iam pela rua como quem vai em passeio. Um carro parou e chamou-os. Era um polícia à paisana, a controlar a declaração que cada um de nós deve levar no bolso explicando o motivo para andar na rua.
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No supermercado Super U havia placas de plexiglas a proteger as pessoas na caixa registadora, e marcas no chão para os clientes não ficarem demasiado próximos uns dos outros. Enquanto punha as minhas coisas no tapete rolante pisei um desses riscos inadvertidamente, e a empregada chamou-me imediatamente a atenção. Pedi desculpa, claro, e pus-me literalmente na linha.
Os funcionários na caixa tinham todos luvas de látex e uma máscara de pano que parecia ter sido feita em casa. Cada uma com um tecido diferente. A da minha caixa, por exemplo, era aos quadradinhos azuis. Nem sei que dizer.
4 comentários:
O nosso comportamento social alterou-se para sempre.
Cada cultura tem reagido de maneiras bastante diferentes a esta pandemia, da mesma maneira que por essas mesmas diferenças culturais uns estão mais expostos que outros. Os alemães podem ficar com os seus filhos em casa até mais tarde que a mãe portuguesa, mas secalhar também estes procuram casa própria antes que muitos dos portugueses que perto dos 30 ainda estão por casa dos pais. Bem ou mal isto tem impactado os numeros de infecção inferiores na Alemanha em comparação com muitos paises europeus.
Sou suspeita porque fui Ed. de Infancia mas é bom ler e ouvir os comentários sobre a nossa profissão :)
Margarida, da próxima vez que os educadores de infância pedirem aumento de ordenado, acho que vão receber sem qualquer discussão... ;)
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