Ao fim de semana e meia a viver no lar de estudantes conseguimos encontrar uma casa com mais algum conforto, onde podemos ficar até o nosso novo apartamento estar livre - que é em fins de Março. Com três frentes (e nenhuma delas é para norte!), uma janela a dar para a ponte pênsil, outra a dar para a fortaleza antiga junto ao porto, e a terceira para uma rua com uma bela mistura de telhados bretões. Infelizmente o dono não o aluga por mais do que um mês seguido. É que era já!
(Embora o dono tenha uma espécie de tique dos móveis: nunca vi tamanha concentração de móveis por centímetro quadrado!)
Comemorámos a mudança com uma pratada de ostras, festejando a sensação de - exagerávamos por piada - termos recuperado a nossa condição de seres humanos (os estudantes que me perdoem).
A sensação de alívio e conforto levou-me imediatamente a pensar nos refugiados que vivem em tendas ou campos de "acolhimento" há meses e anos. Quando poderão libertar-se daquelas condições de vida indizíveis, e voltar a sentir-se seres humanos?
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Na sexta-feira passada estava a meter as últimas coisas em caixas para sair do lar de estudantes quando o Joachim telefonou: que devia ir imediatamente ao supermercado, porque a partir de sábado as coisas iam ficar muito feias na França.
Só então me dei realmente conta do cenário possível para os próximos tempos: sem rede de familiares e amigos, numa cidade estranha, num apartamento de frigorífico e despensa vazios, com os restaurantes fechados. De modo que fui ao supermercado e enchi o carrinho mais ou menos como costumo fazer na primeira ida ao supermercado quando estou de férias em Portugal. As pessoas à minha volta - a maior parte delas estudantes ou idosos - tinham cestos com menos de metade do que eu levava. As prateleiras estavam muito compostas. O único produto que não encontrei foi grão-de-bico. E nem me esqueci do papel higiénico: quatro gloriosos rolos!
Ao fim da tarde fomos ao Lidl comprar vinho. As prateleiras da massa e das conservas estavam bastante desbastadas. Mas - por sorte - as do vinho não.
Fiquei a pensar na diferença de comportamentos no Lidl e no Carrefour: será que as pessoas com menos rendimentos têm menos confiança no sistema e cuidam de se prevenir para não serem apanhadas em falso?
Esta crise que se anuncia tem-me feito pensar mais nos que menos têm. Os estudantes marroquinos no lar onde vivíamos, por exemplo. Tantos, no mesmo espaço, sem poderem ir para casa e ficar por lá até o maior perigo passar.
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