12 fevereiro 2020

a terra dele



A Berlinale 2020 está a dar grande relevo ao filme "Berlin Alexanderplatz" - como por exemplo nesta Pietà que encabeça o anúncio da publicação do programa na página de Facebook do festival - e fico contente por me cruzar tantas vezes com imagens do luso-guineense Welket Bungué, que é o actor principal deste filme.

Sempre que o vejo nos cartazes, um triste tique videirinho faz com que me aproprie dele: este é meu, é dos nossos, tem de ser português - olhem para o meu país no centro da Berlinale!
 
Gostava de perguntar aos portugueses que mandam pessoas "para a terra delas" qual lhes parece que será a terra deste actor. Não é que seja importante - era mesmo só para saber o endereço para onde enviar o Urso de Ouro, caso ele o ganhe.

E tenho de olhar melhor para estes meus tiques de apropriação do sucesso de Welket Bungué: pressinto vestígios de pensamento colonial na facilidade com que sublinho a parte "luso" e ignoro a parte "guineense" da sua identidade.

1 comentário:

Jaime Santos disse...

Aqui há muitos anos, o Governo britânico, numa campanha anti-racista, expunha uma fotografia de Linford Christie (atleta medalhado), nascido na Jamaica, e perguntava, 'when you look at him, do you see the black or do you see the gold?'. A resposta correta seria, naturalmente, que vemos ambos.

Quando o Eder, outro luso-guineense, marcou aquele golo fantástico à França, parece-me que fomos todos um bocadinho culpados de apropriação neo-colonial, não :-) ?

A razão disto, Helena Araújo, é simples. Não se trata apenas de celebrar a conquista pessoal dele, porque a vitória no fundo não é nossa, é daqueles jogadores que trabalharam para isso. Trata-se também de celebrar, parece-me, que se um País permite que tais valores se revelem, não pode ser tão mau quanto isso... Por isso, a vitória não é meramente simbólica, também é um pouco do colectivo nacional...