26 janeiro 2020

Mahler, Rattle, Petrenko



A sexta sinfonia de Mahler foi o primeiro concerto que Simon Rattle deu com a Orquestra Filarmónica de Berlim, em Novembro de 1987, e o último que deu na Filarmonia na qualidade de seu director artístico.

O novo director da orquestra, Kirill Petrenko, escolheu também essa peça como uma das primeiras a apresentar ao público. A caminho do concerto, na sexta-feira passada, pensei na coragem deste maestro: entre tantas peças que podia escolher para tocar com esta orquestra, foi repetir a sexta de Mahler enquanto a memória da outra - a da despedida do Rattle - ainda está bem viva no público berlinense. Coragem não lhe falta!

Não seria fácil para ninguém ocupar o lugar deixado por Simon Rattle, e a escolha desta peça pode ter sido um desafio, ou até uma simbólica tomada de posse.
Ora bem: foi de tal maneira, que as pessoas até se esqueceram de tossir. E eu passei oitenta minutos a sentir que nos estava a acontecer música perfeita.

No dia seguinte, os críticos concordaram que tinha sido perfeito, e que isso fora um erro: a sexta de Mahler precisa de mais tensão existencial, em vez do percurso linear que o Petrenko lhe deu. Dizem que este maestro ainda tem de crescer para o Mahler, e que será um prazer assistir ao seu percurso.

Eles lá sabem. Mas esta alegria já ninguém me tira: estar sentada na Filarmonia a sentir-me imersa em perfeição.


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