Na véspera da cerimónia do Yad Vashem, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, encontrou-se com um grupo de sobreviventes do Holocausto. O encontro teve lugar no centro AMCHA, uma organização de apoio a sobreviventes traumatizados.
Vinte e cinco pessoas falaram com o presidente, contaram a sua vida, falaram da dificuldade de falar com os seus familiares sobre o que aconteceu. Uma delas, de 102 anos, diz que estarem ali sentados é uma maneira de se vingarem dos nazis.
Essas histórias comoventes revelam também o que há de prodigioso no facto de ser possível juntar alemães e israelitas na mesma cerimónia de memória do Holocausto.
Giselle Cycowicz, que ficou sentada ao lado do presidente alemão, sobreviveu a Auschwitz e aos trabalhos forçados numa fábrica, emigrou para os EUA e só aos 65 anos para Israel. Tem 92 anos, 21 netos e 24 bisnetos, mais dois que vêm a caminho. "Na véspera da sua chegada toda a Shoa voltou a passar por mim", diz ela, virada para Steinmeier.
Cycowicz aprendeu a lidar com a sua história pessoal, mas não a consegue esquecer. Relata como foi separada do seu pai em 1944 em Auschwitz, e de ele a ter informado, do lado de lá da cerca, "amanhã vou para o gás". Descreve o caminho entre o campo de concentração e a fábrica, uma hora a andar sobre a neve e o gelo, sem sapatos nem meias. "Ainda hoje sinto frio. Não consigo nunca sentir-me quente."
Também se lembra do dia da libertação, no campo de Weißwasser. "Podem-se ir embora, podem ir para onde quiserem", disse um homem às raparigas prisioneiras. Elas olharam umas para as outras, aflitas, sem força, desorientadas.
Nenhuma festejou. "Nenhuma de nós disse um Aleluia", diz ela. "Não sabíamos para onde havíamos de ir."
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