11 janeiro 2020

"luxo"

Um irmão meu contou que uma vez lhe pediram para escrever um texto sobre #luxo, e ele - que faz casas daquelas que vêm nas revistas de arquitectura, e até vivia numa dessas, uma casa daquelas tipo superlativo - descreveu uma cena que aconteceu na nossa casa: o meu marido em frente ao frigorífico onde guardamos as melhores garrafas de vinho, a escolher um para o jantar, e a contar a história de cada uma daquelas garrafas. Um luxo.

Uma vez convidaram-nos para um jantar cozinhado por um tipo que tinha aparecido num programa de televisão a ir ao pólo norte buscar gelo de um glaciar para o seu whisky. Deitava um cubo no copo, punha-se a ouvir os estalidos e dizia "vejam só, o ecoar dos milénios". Não fomos ao jantar porque o comportamento predador do homem nos incomodou imenso. E isto mesmo bem antes de nos meterem pelos olhos adentro as consequências que os nossos hábitos têm na destruição do planeta. 

Hoje os meus vizinhos contaram que vão voar para Miami para fazer um cruzeiro a partir de lá. Vão atravessar meio mundo para depois fazer o programa de férias mais poluente que conheço.
E eu: digo-lhes o quê? Fico calada?

Mais complexo ainda: bem posso queixar-me do pessoal que acha que todo o luxo é legítimo desde que o possa pagar, e da fúria que isso me dá, mas depois ocorre-me que tudo isto é relativo. Também eu me dou ao luxo de comprar e fazer coisas que provocam fúrias a outros.

Como fazer, para não acabarmos todos à pancada?

2 comentários:

Catarina disse...

Vivre et laisser vivre...

Helena Araújo disse...

Sim, mas que fazer quando o modo de vida dos outros constitui uma ameaça à minha/nossa sobrevivência?