As palavras têm poder, e dão sinais tanto do que acontece na sociedade, apontando simultaneamente novas (ou velhas) direcções possíveis. Num esforço de atenção ao poder das palavras e aos sinais que dão, na Alemanha escolhe-se desde 1991 a "despalavra" do ano para criticar o uso de uma palavra ou expressão que constitui um atentado à dignidade humana ou uma ameaça à democracia. Lembro-me de algumas palavras/expressões que já foram nomeadas em anos anteriores:
- "capital humano",
- "assassínios dos döner" (expressão usada pela polícia alemã para se referir a estranhos casos de assassínios de turcos - mais tarde veio a descobrir-se que era obra de um grupo de neonazis),
- "traidor do povo" (expressão usada contra um político),
- "indústria anti-repatriamento" (expressão usada por um político para se queixar da resistência ao repatriamento de refugiados)
Este ano, a expressão escolhida foi "histeria climática".
Num entrevista ao Spiegel, Nina Janich, presidente do júri, justifica a escolha: a expressão "histeria climática" induz em erro e desacredita o debate. Ao dar a ideia de que se trata de uma patologia, de uma psicose colectiva, a Ciência é desautorizada. O debate sobre o clima, que tem uma base científica, é deslocado para a área da patologia, e as pessoas que o conduzem são apelidadas de histéricas. Nas suas próprias palavras: "o que criticamos é a oposição à Ciência que se revela na "despalavra" deste ano. De momento nota-se uma tendência forte para fazer da oposição à Ciência um programa político. (...) A crítica deste ano dirige-se a pessoas que talvez não pensem naquilo que estão realmente a dizer. Queremos questionar: será que estas palavras são positivas para o debate, será que são suficientemente objectivas? (...) Queremos suscitar discussões e reflexão sobre as palavras. Queremos chamar a atenção para o facto de que quem comunica em público tem uma grande responsabilidade sobre a forma como comunica"
1 comentário:
Histeria tem uma conotação negativa. Words matter!! 😊
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