01 setembro 2019

Christoph Eschenbach, o novo maestro da Konzerthausorchester

Além de terem uma casa com uma acústica que bailhamedeus, a orquestra da Konzerthaus apresenta hoje o seu novo maestro. E logo hoje, apenas uma semana depois de Kirill Petrenko ter sido apresentado ao mundo como o novo maestro dos Filarmónicos cá da terrinha num concerto para 35.000 pessoas em frente à Porta de Brandeburgo, e transmitido na tv e online. É preciso ter azar! Pobre Konzerthausorchester, pobre Christoph Eschenbach.

Mas se o destino te oferece limões, mais vale fazer a limonada de cabeça erguida. A Konzerthaus tem hoje as portas escancaradas para apresentar o novo maestro: entrada livre, vários concertos - entre os quais um ensaio da orquestra, e a nona de Dvořák. Também vão passar o documentário "Aus der Stille in die Musik“ (link para o filme em alemão) de Andreas Morell, sobre a vida e a música de Christoph Eschenbach.

Vi este filme ontem, e a história da sua infância impressionou-me particularmente: nascido em Breslau em 1940, filho de uma estudante de música e do seu professor, perdeu a mãe logo à nascença e foi criado pela avó materna. Em 1944, o pai, que entretanto casara com uma mulher judia e resistia aos nazis, foi enviado para a frente num "batalhão disciplinar" onde em breve morreria. Em Janeiro de 1945 a avó e o neto puseram-se a caminho do oeste, juntamente com milhões de pessoas em fuga ao exército vermelho. Em Dezembro de 1945, num dos invernos mais rigorosos de que há memória na Alemanha, vivam com mais sessenta refugiados num barracão em Mecklenburg, deitados em palha e devorados por pulgas e piolhos. Um surto de tifo matou todas as pessoas do grupo - excepto o pequeno Christoph. Uma prima da mãe, alertada pela avó que conseguira estabelecer o contacto alguns dias antes de morrer, conseguiu levar o pequenito para sua casa em Wismar. O processo de recuperação demorou quase um ano. O pequeno Christoph - que perdera o pai aos 4 anos e a avó aos 5, que atravessara a Alemanha destruída pela guerra e vivera quase um ano num barracão sem condições - não conseguia nem sequer andar ou falar.

Como ele próprio conta no filme (00:11:50):

"Do quarto ao lado vinha a música que ela tocava todas as noites. Ela era pianista, como a minha mãe. Até tinham estudado juntas. Todas as noites ouvia aquela música, que de algum modo me devolveu a saúde. E, mais que isso: devolveu-me a linguagem. Numa palavra: devolveu-me a coragem para recomeçar a andar. Devolveu-me a coragem. Foi então que começaram sete anos soalheiros da minha vida."

O filme chama-se "do silêncio para a música".

Daqui a pouco irei ao Gendarmenmarkt ouvir a música que vive dentro deste homem e lhe sanou as feridas fundas que algumas das páginas mais terríveis da História do século XX sulcaram nele. 




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