22 junho 2019

o futuro aqui ao lado



Ontem tivemos mais uma reunião de vizinhos para preparar a nossa festa da rua. De facto, não há nada para preparar, porque já reduzimos a festa ao mínimo de organização possível: nós marcamos a data e pomos música, mesas, bancos e grandes baldes com água gelada na rua, os vizinhos trazem comes e bebes, e os seus próprios copos, pratos e talheres. Mas dá-nos jeito ter esse pretexto para nos metermos na casa ou no jardim uns dos outros a comer e a beber e a conversar e a rir. De modo que ontem tivemos a nossa terceira reunião, e muitas horas depois de ter começado ainda ninguém tinha vontade de ir para casa.

A meio da conversa com uma das vizinhas descobri que ela está a construir uma espécie de cidade dos Jetsons: um projecto piloto para o que pode ser a cidade do futuro. Sem carros (só com um táxi eléctrico autónomo para carregar volumes pesados), com passagens aéreas rápidas entre os edifícios, pessoas a irem de um lado para outro usando drones, estações de metro digitalizadas, edifícios inteligentes e energeticamente autónomos, etc.
Eu - que venho do tempo dos Flinstones - ouvia as suas descrições, deslumbrada.


Depois do fiasco do aeroporto, e do bairro de Prenzlauer Berg ter escorraçado a Google, Berlim conta com este "Siemens 2.0" para recuperar uma imagem de cidade moderna e dinâmica. A Siemens vai investir 600 milhões de euros, e a restante parte dos investimentos serão assegurados por empresas interessadas em usar esta plataforma como montra para os seus produtos inovadores.

O futuro aqui ao lado - e o que mais me fascina é ver que escolheram uma mulher para ficar à frente deste enorme projecto tecnológico.

Também se falou muito do presente: o vizinho que trabalha na área da aviação explicou os processos que levaram à queda dos 737 MAX e criticou as condições actuais de trabalho e a irresponsabilidade dos chefes das empresas daquela área, que tomam decisões sem prever as consequências que isso tem na segurança das pessoas. Uma pessoa ouve e decide passar a voar muito menos - e não apenas por causa da Greta Thunberg. Ah, a Greta Thunberg - aquela miúda de 16 anos que conseguiu fazer ouvir a sua voz no mundo inteiro e desinstalar os nossos hábitos de mobilidade. Todos a admiramos imenso, e não apenas a vizinha que já há muito tempo escolhe fazer as suas férias de comboio, bicicleta e tenda de campismo, para ajudar a deixar um bocadinho de planeta intacto para os netos. Esta vizinha insistiu comigo para usar o comboio em vez do avião nas distâncias inferiores a 1000 km, mesmo que o comboio custe o dobro. É complicado dizer que não a quem já dá o exemplo. Por sorte, outro vizinho começou a criticar a política de acabar com os comboios nocturnos, e deixaram em paz os meus preparativos para a viagem de família que faremos este ano a Amesterdão. Também gosto muito da ideia de viajar de comboio durante a noite, embora tenha algum problema com aquele exagero de lençóis que é preciso lavar depois de terem sido usados apenas uma noite. A propósito de lavar lençóis: disseram que as máquinas de lavar a roupa e a louça são responsáveis por uma parte substancial do consumo de electricidade nas nossas casas. Se estivessem ligadas a um sistema inteligente de gestão de energias renováveis, podiam ser activadas durante a noite, quando houvesse produção excessiva de energia eólica. Do mesmo modo, os carros eléctricos também podiam ser carregados durante a noite com energia que de outro modo se perde. Embora agora se perca menos energia: desde que entrou em funcionamento uma conduta de energia rápida e eficiente entre a Alemanha e a Noruega, o excesso de energia produzida na Alemanha é enviado para a Noruega, e aí usada para recuperar a água usada nas centrais hidroeléctricas, para usar de novo quando for preciso. Esqueci-me de lhes dizer que isso já se faz em Portugal praticamente desde que eu nasci, pelo que vou ter de lhes propor mais um encontro para preparar a nossa festa de rua...


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