25 junho 2019
Caetano & Velosos
A minha primeira reacção foi de recusa. Pensei coisas más, olha-me este pai aqui a dar uma mãozinha aos filhos para eles aparecerem nos palcos internacionais. Pensei que havia demasiadas músicas tipo Lado B dos discos. Tive dificuldade em atinar com a voz aguda do Zeca. Mas conformei-me - afinal de contas o Caetano também estava a cantar, e só pelos momentos em que dançou sentado já teria valido a pena. Ao fim de algumas canções saudou o público, disse que este concerto com os filhos "celebrava a reprodução". Gostei da expressão: celebrar a reprodução - a passagem de testemunho, a transmissão da arte.
Foi apresentando as canções: a que fez para a mãe do Moreno, a que fez para a mãe dos outros dois, a que o Moreno lhe ofereceu um dia em que iam de carro, a que o Tom compôs com um amigo, a que o Zeca compôs, a que tem uma letra escrita por Moreno aos nove anos, a que Caetano fez para cantar na missa do 90º aniversário da mãe...
E finalmente entendi: este concerto do Caetano Veloso não é uma maneira de mostrar os três filhos em palcos internacionais - é o privilégio de nos deixar entrar na casa e na vida deles, ver como fazem música juntos, como se articulam bem entre os quatro.
Em suma: não é bem um concerto de Caetano Veloso, mas é muito mais que mais um concerto de Caetano Veloso. Não percam.
(Também foi bonito estar numa sala cheia de um público brasileiro, ver os pobres alemães de vigia a tentar impedir os brasileiros de dançar em certas partes da sala, ouvir o coro "Lula livre!" e a voz doce do Moreno a responder-lhes, ouvir estas pessoas a cantar em coro com Caetano e os filhos.)
(Ah, e outra informação: o crime compensa. Se correrem para perto do palco, no fim o Caetano atira beijinhos.)
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