Trago de novo do facebook um comentário do Lutz Brückelmann sobre o texto partilhado no post anterior:
Uma reflexão muito
oportuna e boa mas que, talvez mesmo por ser rica em argumentos e
referências, me soube a pouco. Ou melhor, me lembrou que eu próprio
ainda não clarifiquei as minhas ideias sobre isso o suficiente. Concordo
a cem por cento com a crítica ao RAP, e
é uma lástima, quase tragédia, que o seu merecidíssimo prestígio como
humorista sirva para validar as suas posições proferidas como "public
intellectual" preguiçosas e inteletualmente indigentes. Ainda mais por
serem proferidas como são, não distinguidas dos produtos do seu génio
humorístico. Mas o exemplo do RAP é apenas um sintoma - muito influente
em Portugal - dum consenso alargado entre pessoas da sua geração e mais
novos que receio não estar bem classificado como "antiquado". Embora
compreenda o que o Miguel Monteiro quer dizer. Sim, a última década, com o
sucesso dos propagandistas do ressentimento e dos mentirosos sem
escrúpulos, tem demonstrado que a ideia de que tudo pode ser dito,
porque o diálogo aberto e sem freios sempre conduz ao entendimento e à
verdade, é infelizmente falsa. O diálogo conduziria, se entendemos que
nele esteja inerente um consenso mínimo sobre valores, boa fé e
compromisso com a verdade. Mas no debate que temos no lugar do diálogo,
nas redes sociais e na comunicação social, estas bases estão ausentes.
Mas
"antiquado" só seria a palavra certa se posteriormente ao consenso da
geração do RAP, que identifico como sendo parte do pensamento liberal e
neoliberal que dominava a blogosfera que encontrei quando nela entrei em
2003, se tivesse encontrado e estabelecido, pelo menos em hipótese, uma
nova forma de diálogo ou debate público.
Não vejo isso.
Só vejo que, quando alguém, indivíduo ou grupo profere uma barbaridade,
nós gritamos "escândalo" e eles conseguem vitimizar-se, dizendo-se
agredidos na sua liberdade de expressão. Infelizmente funciona muito
bem. E funciona tanto melhor quanto tentamos punir, na prática, tais
manifestações. O sucesso da extrema direita nos EUA, de personagens como
Milo Yiannopulos, Ben Shapiro e Jordan Peterson deve-se em grande parte
a isso.
Agora, o que é nossa resposta não "antiquada"?
Continuar a gritar "escândalo", como fazemos, não é nada de novo.
Proibir mesmo? Obrigar - mais realista seria dizer pedir - ao Facebook e
ao Twitter para banir figuras destas? Acho bem que a Facebook tenha banido finalmente o Milo e o Alex Jones, mas não acredito que isso seja a solução
do problema. Estes são apenas os casos extremos que, no fim, foram
suficientemente inábeis para terem dado matéria de sobra para o
justificar. Casos como o Peterson, Shapiro, e muitos políticos europeus,
de Farage e Salvini a Orbán e Gauland não são assim apanháveis.Vou
continuar a esforçar-me, mas ainda não encontrei a forma "moderna", em
contraste com a "antiquada" do RAP, para lidar com manifestações de
desumanidade no espaço público. Entretanto posso e devo continuar a
chamar o RAP idiota, quando, num caso como o "Pedras para os Zucas"
entende que o foco deve ser dado à "ameaça" à liberdade de expressão em
vez da violência racista inerente.
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