Confesso que nunca consegui entender a primeira guerra mundial. Que foi aquilo? Como é que os reais primos se zangaram todos e de repente havia milhões de rapazes a morrer vitimados por armas temíveis?
A mesma perplexidade em relação ao Brexit: apesar de acontecer aqui ao lado no nosso tempo de informação omnipresente, não consigo entender como se deixaram chegar a este beco sem saída.
Confesso também que já me tenho rido bastante com muitos dos cartoons e memes a que a trágica performance do Reino Unido tem dado origem. Concordo que a Europa não pode dar ao Reino Unido condições mais vantajosas que as que dá à Noruega, e que não se pode sugerir a nenhum país da União a ideia de que pode sair para se pôr à margem do que não gosta e continuar a ter acesso a todas as benesses desta comunidade.
Mas não posso esquecer o essencial: a União Europeia é, antes de mais, um projecto para reforçar a paz na Europa. Os comentários mesquinhos sobre os ingleses, a schadenfreude, a assertividade da desforra que por aí ouço são uma traição ao mais fundamental do projecto europeu.
Sinto-me imensamente triste com os cidadãos do Reino Unido que queriam continuar na União Europeia. Quanto aos outros, os que queriam sair sabe-se lá por que motivos: nem pensar em lhes dar motivos para se sentirem confirmados na sua rejeição. O Reino Unido está a braços com um desafio brutal, mas nós também: temos de saber ser bons vizinhos. Não podemos ter uma deriva nacionalista, alargada ao espaço europeu, para rejeitar o corpo inglês que se vai tornando estranho. A paz na Europa é um trabalho de todos - árduo, exigente e quotidiano. Nada é garantido para sempre.
Pode ser que continue a partilhar piadinhas sobre o Brexit. Mas que o humor não nos turve o olhar, e não nos impeça de ver e sentir o sofrimento daquele povo. Isto não é uma anedota de mau gosto - é uma tragédia de assombrosa dimensão.
4 comentários:
Adoro o RU e vou ter imensa pena quando os bifes saírem da UE. Mas acho que um novo referendo, ou serviria para confirmar o primeiro, conhecidas as condições reais de saída e poderia ter alguma utilidade, ou reverteria a decisão de saída e seria olhado como uma traição por muitos dos Leavers que não mudaram de opinião. E isso iria criar uma grave crise interna na Grã-Bretanha, muito pior do que a actual.
Penso que o que é mais importante é que os britânicos reconheçam que serão obrigados 'to own their decision'. O processo de saída tem vantagens e inconvenientes e se a Democracia permite escolhas, não permite necessariamente escolher a felicidade. Ás vezes, a escolha é simplesmente entre o mau e o péssimo.
Por isso, tudo o que a restante UE lhes pode oferecer é tempo (e tão só) para eles tomarem a decisão final, incluindo sair sem acordo ou ficar (o que comportaria imensos riscos como disse acima, mas mesmo isso é com eles).
Tal qual. Mas continua a ser difícil para mim compreender como o Reino (por enquanto) Unido se meteu nesta embrulhada. Razão têm os nossos constituintes em colocar na Constituição que tratados internacionais não podem ser referendados!
Por essas reacções actuais ao (anunciado) «Brexit», dá para perceber facilmente a 1ª Guerra Mundial: a rivalidade e a ambição novamente a superar a solidariedade e a cooperação.
Eu confesso que nunca acreditei nisto do «Brexit». A ter existido, como os teimosos previam, teria sido no prazo legal, em Março último. Agora, parafraseando o velho Afonso Domingues, "não saíu, não sairá!".
E todo este lamentável processo ir-se-á apenas arrastando penosamente, durante meses (ou até anos!), até haver fatalmente um novo Referendo, que porá enfim cobro a este enorme pesadelo, inútil e evitável, criado por uma certa mentalidade, gananciosa e sem escrúpulos, que domina as sociedades actuais - urbanas, desenraizadas e infantilizadas -, através da omnipresente e omnipotente comunicação social.
Espero bem é que tudo isto sirva como uma eficaz vacina histórica, para os Povos europeus abrirem os olhos a tempo e perceberem no que pode um dia dar esta espécie de "demucrassia" mediática, comandada pelos poderosos e invisíveis, mas caucinada pelo voto das massas ignaras. Porque serão sempre elas, as massas, a sofrer as terríveis consequências da irresponsabilidade do seu voto, o qual agora substitui as birrinhas entre Primos reais e imperiais.
To put it quite gently: - U, May, go!
Corrijo "caucionada", desculpem...
Enviar um comentário