09 abril 2019

é suposto ser um projecto de paz

Confesso que nunca consegui entender a primeira guerra mundial. Que foi aquilo? Como é que os reais primos se zangaram todos e de repente havia milhões de rapazes a morrer vitimados por armas temíveis?

A mesma perplexidade em relação ao Brexit: apesar de acontecer aqui ao lado no nosso tempo de informação omnipresente, não consigo entender como se deixaram chegar a este beco sem saída. 

Confesso também que já me tenho rido bastante com muitos dos cartoons e memes a que a trágica performance do Reino Unido tem dado origem. Concordo que a Europa não pode dar ao Reino Unido condições mais vantajosas que as que dá à Noruega, e que não se pode sugerir a nenhum país da União a ideia de que pode sair para se pôr à margem do que não gosta e continuar a ter acesso a todas as benesses desta comunidade.

Mas não posso esquecer o essencial: a União Europeia é, antes de mais, um projecto para reforçar a paz na Europa. Os comentários mesquinhos sobre os ingleses, a schadenfreude, a assertividade da desforra que por aí ouço são uma traição ao mais fundamental do projecto europeu.


Sinto-me imensamente triste com os cidadãos do Reino Unido que queriam continuar na União Europeia. Quanto aos outros, os que queriam sair sabe-se lá por que motivos: nem pensar em lhes dar motivos para se sentirem confirmados na sua rejeição. O Reino Unido está a braços com um desafio brutal, mas nós também: temos de saber ser bons vizinhos. Não podemos ter uma deriva nacionalista, alargada ao espaço europeu, para rejeitar o corpo inglês que se vai tornando estranho. A paz na Europa é um trabalho de todos - árduo, exigente e quotidiano. Nada é garantido para sempre.

Pode ser que continue a partilhar piadinhas sobre o Brexit. Mas que o humor não nos turve o olhar, e não nos impeça de ver e sentir o sofrimento daquele povo. Isto não é uma anedota de mau gosto - é uma tragédia de assombrosa dimensão.

4 comentários:

Jaime Santos disse...

Adoro o RU e vou ter imensa pena quando os bifes saírem da UE. Mas acho que um novo referendo, ou serviria para confirmar o primeiro, conhecidas as condições reais de saída e poderia ter alguma utilidade, ou reverteria a decisão de saída e seria olhado como uma traição por muitos dos Leavers que não mudaram de opinião. E isso iria criar uma grave crise interna na Grã-Bretanha, muito pior do que a actual.

Penso que o que é mais importante é que os britânicos reconheçam que serão obrigados 'to own their decision'. O processo de saída tem vantagens e inconvenientes e se a Democracia permite escolhas, não permite necessariamente escolher a felicidade. Ás vezes, a escolha é simplesmente entre o mau e o péssimo.

Por isso, tudo o que a restante UE lhes pode oferecer é tempo (e tão só) para eles tomarem a decisão final, incluindo sair sem acordo ou ficar (o que comportaria imensos riscos como disse acima, mas mesmo isso é com eles).

jj.amarante disse...

Tal qual. Mas continua a ser difícil para mim compreender como o Reino (por enquanto) Unido se meteu nesta embrulhada. Razão têm os nossos constituintes em colocar na Constituição que tratados internacionais não podem ser referendados!

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...


Por essas reacções actuais ao (anunciado) «Brexit», dá para perceber facilmente a 1ª Guerra Mundial: a rivalidade e a ambição novamente a superar a solidariedade e a cooperação.

Eu confesso que nunca acreditei nisto do «Brexit». A ter existido, como os teimosos previam, teria sido no prazo legal, em Março último. Agora, parafraseando o velho Afonso Domingues, "não saíu, não sairá!".

E todo este lamentável processo ir-se-á apenas arrastando penosamente, durante meses (ou até anos!), até haver fatalmente um novo Referendo, que porá enfim cobro a este enorme pesadelo, inútil e evitável, criado por uma certa mentalidade, gananciosa e sem escrúpulos, que domina as sociedades actuais - urbanas, desenraizadas e infantilizadas -, através da omnipresente e omnipotente comunicação social.

Espero bem é que tudo isto sirva como uma eficaz vacina histórica, para os Povos europeus abrirem os olhos a tempo e perceberem no que pode um dia dar esta espécie de "demucrassia" mediática, comandada pelos poderosos e invisíveis, mas caucinada pelo voto das massas ignaras. Porque serão sempre elas, as massas, a sofrer as terríveis consequências da irresponsabilidade do seu voto, o qual agora substitui as birrinhas entre Primos reais e imperiais.

To put it quite gently: - U, May, go!

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...

Corrijo "caucionada", desculpem...