05 fevereiro 2019

Weit - Far



Há tempos um amigo meu comentou que já ninguém anda à boleia.

"Já ninguém", vírgula: sei de dois rapazes portugueses que há poucos anos atravessaram a Europa à boleia. Chegados a Berlim, ficaram em minha casa. Levei-os à Filarmonia, e iam com umas t-shirts todas amarrotadas. Disseram-me que as bem dobradas tinham buracos...

Suspeito que agora já não se anda à boleia por dois motivos: os transportes ficaram muito mais baratos e a malta tem muito mais dinheiro; temos todos muito medo do "homem do saco" que nos pode atacar em qualquer momento.

Na Berlinale de 2018 mostraram um documentário feito por um jovem casal alemão que andou 3,5 anos pelo mundo à boleia - 50.000 km à boleia. Saíram para Leste, e regressaram pelo Oeste (mas já a três, com a filhinha que lhes nasceu no México).

Se querem saber tudo, o filme pareceu-me um bocadinho seca, porque das regiões e dos povos que eles atravessam só mostra praticamente o condutor que lhes dá boleia. Ou eles à chuva, à espera de boleia. Ou eles perdidos na imensa paisagem, já a desesperar por não apanharem boleia.

Mas deixa uma ideia bonita: não há tantos "homens do saco" como os nossos medos nos dizem. O nosso planeta está cheio de condutores simpáticos, que dão boleia sem saberem a quem.


 

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