05 fevereiro 2019

Berlinale 2019 - primeiras impressões



Já estou há mais de duas horas a estudar o programa da Berlinale, e ainda não me apareceu nenhum filme sobre refugiados. Em 2017, os refugiados foram o tema central do festival, numa abordagem "Ecce homo". Em 2018 continuaram a ter um papel muito importante, mas a perspectiva mudou do "eles" para "podia ter-me acontecido a mim"/"tal como já aconteceu no meu país".
De modo que estava curiosa para saber como é que o cinema olharia para os refugiados em 2019. Aparentemente, deixaram de ser tema.

Também estou a sentir a falta de outros temas muito actuais, tais como: fake news, manipulação das redes sociais, o regresso dos nacionalismos, Brexit, Trump, Bolsonaro, #MeToo. Será que os cineastas estão tão perplexos como todos nós?

À primeira vista, o programa desta 69ª Berlinale podia bem ser o da 60ª. Ou o da 50ª. Filmes sobre questões de há muito: famílias, identidades, pobreza, exploração infantil, LGBT, ecologia. Mas há um detalhe que coloca esta edição no centro do nosso tempo: os temas são conjugados em grande parte no feminino. E a categoria Retrospectiva é dedicada inteiramente a realizadoras mulheres entre 1968 e 1999.

Dieter Kosslick escreve no editorial do programa que o festival deste ano retoma um lema do movimento feminista de 68: "o privado é político". Pois seja. Mas custa-me ver este programa tão à margem das questões que mais ocupam o nosso tempo.
Pode ser que uma segunda abordagem, com mais profundidade, me corrija esta primeira impressão.

A 69ª Berlinale é a última sob a direcção de Dieter Kosslick. Ainda o festival não começou e já sinto saudades deste seu director.


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