20 janeiro 2019

"Westminster"

Ontem a palavra mágica era varanda e ninguém falou das marquises, agora é #Westminster e ninguém diz que faz hoje, precisamente hoje, um ror de anos que se realizou nesse palácio a assembleia parlamentar que deu origem à Câmara dos Comuns. 
Isto é uma triste vida, só vos digo: onde outros atiram o foguete, fazem "pum!" e vão buscar a cana, eu tenho de escolher a palavra do dia e a seguir também faço o post. Por este andar, só me falta mesmo pôr likes no que escrevo. Humpf! 😉
O que se passou foi o seguinte: a Magna Carta já ia a caminho do meio centenário quando Simon de Montfort, duque de Leicester, começou a achar que não bastava. A verdade, se querem saber tudo, é que em 1258 Montfort encabeçou um grupo de nobres descontentes com o governo do rei, que conseguiu impor a criação de um conselho que reduzia o poder real – algo bem mais exigente que a Magna Carta. As provisões de Westminster escritas em 1258 determinavam que o conselho se reuniria três vezes por ano para debater as questões do reino. 
Três anos depois, o rei Henrique III começou a sentir-se suficientemente forte para recuperar o poder perdido, mas a coisa correu-lhe mal. Seguiu-se uma guerra civil, e Montfort ganhou a batalha de Lewes contra o rei, capturando este e o príncipe herdeiro, que viria a ser Eduardo I. O país passou a ser governado por Montfort, que tinha um problema grave: a falta de aliados. Para conseguir o apoio de uma franja larga da sociedade, Montfort lembrou-se de convocar um conselho no qual, para além dos habituais barões, participariam também representantes eleitos do povo – bispos, abades, pares, cavaleiros dos Condados e cidadãos dos burgos. E até lhes pagou as despesas de viagem.
As sessões começaram a 20 de Janeiro de 1265, e foram até 20 de Março. Mas rapidamente se percebeu que Montfort inventara aquela modernice democrática para impor os seus interesses ditatoriais (passe o anacronismo). E, para complicar ainda mais a situação, depois desta experiência pseudodemocrática começou a enriquecer muito rapidamente.
Ora, na Idade Média não se perdia tempo com rodriguinhos: o seu aliado mais importante afastou-se, começou uma nova guerra, e em Agosto de 1265 Monfort viria a ser morto na batalha de Evesham. "The murder of Evesham," como escreveu Robert of Gloucester, "for battle it was none."
Trinta anos depois, a 13 de Novembro de 1295, o rei Eduardo I presidiu à primeira assembleia que se pretendia realmente representativa: dois cavaleiros de cada condado, dois cidadãos de cada burgo - a maior parte dos quais escolhidos por eleição em vez de nomeação. Em 1341 deu-se a separação das Câmaras – a Câmara dos Comuns para os cavaleiros, os representantes dos burgos e os cidadãos, e a Câmara dos Lordes para os barões e os clérigos.

E Simon de Montfort entrou para a História como um dos ditadores wannabe mais incompetentes do mundo: queria reforçar o seu poder, e acabou a facilitar o caminho à Democracia.
(Fossem todos os ditadores como ele!..)


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