(fonte)
Na praça principal de Weimar há uma #varanda arrepiante: foi feita de propósito para Hitler se mostrar à cidade e ser aclamado pela população que o adorava.
Comecemos pelo princípio: em finais do séc. XVII fizeram naquele lugar uma casa de hóspedes que ganhou muito boa fama. Era o "Elefante". Bach morou na casa à sua esquerda, e ali nasceram vários dos seus muitos filhos, no local onde é agora o estacionamento do hotel. O palácio ducal ficava muito perto, tal como as casas de Lucas Cranach, de Goethe, e de Schiller. Um hotel central, de grande renome, na praça mais importante da cidade. Nele se alojavam, entre tantos outros, os amigos de Goethe (ou a sua amada Charlotte Kestner, que inspiraria Thomas Mann para escrever o “Lotte in Weimar”), Franz Liszt, Richard Wagner, Clara Schumann, Hans Christian Andersen, Leo Tolstoi, Sigmund Freud, e também alguns dos fundadores da bauhaus, tais como Walter Gropius e Lyonel Feininger.O dramaturgo Franz Grillparzer, que se instalou no hotel em 1826, comparou-o à “sala de entrada na Valhala viva de Weimar”.
Tudo corria de feição ao antiquíssimo hotel, até que em Julho de 1926 Adolfo Hitler se alojou ali pela primeira vez. No registo consta: „escritor“ – afinal de contas, já tinha a primeira parte do Mein Kampf escrita. Weimar tornou-se uma das cidades favoritas do ditador, e o amor era correspondido. A cidade foi usada como o palco experimental de Hitler perante multidões. Em 1937 a antiga casa foi derrubada para dar lugar ao “hotel mais moderno da Europa”. Um edifício pesado, suficientemente sólido para um Reich de mil anos. Com uma varanda, uma única varanda, para Hitler. Os weimarenses reuniam-se na praça, em frente ao hotel, gritando “Querido Führer, sê gentil, vem mostrar-te ao peitoril”.
Depois da guerra, o edifício foi transformado em centro de formação de professores. Quando Thomas Mann visitou a cidade em 1955, conseguiu dois grandes feitos: fechar Buchenwald (que continuava a funcionar como campo de concentração, sob gerência soviética) e reabrir o Elefante como hotel.
Depois da queda do muro os visitantes ilustres continuaram: Gorbatschow, Putin, Merkel, Udo Lindenberg, Pink Floyd, Joe Cocker, Sting, Patti Smith...
(e eu, que jantei lá uma vez) (hihihi)
A varanda continua lá. Não é muito fácil derrubar uma varanda que foi construída para durar mil anos. O hotel tenta limpar os vestígios do horroroso passado, pondo na varanda figuras positivas da História da cidade: a actriz Lilly Palmer, que participou no filme “Lotte in Weimar”, o arquitecto Henri van de Velde, que abriu o caminho à bauhaus, o escritor Thomas Mann, etc.
É verdade que está na praça mais importante de Weimar, e que é um hotel de luxo, e que há limites para a carga da memória que se exige que uma cidade carregue. Mas, apesar dos esforços de “limpar a varanda”, espero que os fantasmas horrorosos se mantenham presentes por mil anos. Não podemos esquecer.
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