30 novembro 2018

Hippolyte et Aricie - e mais um vício



Ontem fui à Staatsoper Unter den Linden ver o Simon Rattle a conduzir a ópera de Rameau "Hippolyte et Aricie", e acabei fascinada a ver o trabalho do Ólafur Elíasson. Mais um vício, como se não tivesse já vícios em demasia...

Simplesmente hipnotizante: o modo como trabalha com a luz, os reflexos, os espelhos.
Assim não há condições para ficar uma ópera inteira a cuscar o Simon Rattle!

(E se fosse só o Ólafur Elíasson a impedir-me de ver o Rattle, bem íamos. Mas - maldita Staatsoper, maldito inventor das óperas redondas para as pessoas do público se cuscarem mutuamente, em vez de olharem para o palco! - sempre que a minha vizinha se chegava para a frente para ver melhor, eu tinha de me torcer toda para tentar ver por debaixo do sovaco dela, ou esticar-me por cima do seu assento para ver na clareira entre ela e a amiga. Claro que também me podia chegar para a frente, mas não queria fazer a mesma cena de egoísta. Claro que também lhe podia dar uma cotovelada, e apontar para todas as pessoas atrás dela que ficavam sem ver. Mas mais ninguém se queixava, e iam ser duas contra uma, e a gente nunca sabe do que é que alguém é capaz, se já se chega assim à frente sem contemplações nem remorsos.)

(O que me dava jeito era ser rica, e ficar num dos lugares em frente ao palco, onde o único problema que tenho é sentar-me semideitada na cadeira, para os de trás poderem ver. Mas como só me chega para comprar bilhetes a preços de povo, fico sujeita a estas situações boas para reconhecer metáforas sobre a arraia miúda a melhorar a sua situação à custa dos outros, tal e qual como os ricos.)

(Espero que o Marx não tenha lido a última frase.)


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