09 novembro 2018

9 de Novembro de 1938 (2)


"Aconteceu, e por isso pode voltar a acontecer: é esta a essência daquilo que temos para dizer."
Primo Levi

No 80º aniversário do pogrom nazi de 1938, a extrema-direita quer marchar em Berlim. Esta "Marcha Fúnebre pelas Vítimas da Política" é organizada pelo grupo "nós pela Alemanha".

O ministro do Interior do Estado de Berlim, Andreas Geisel (SPD), está a fazer os possíveis para inviabilizar a manifestação. Um tribunal proibiu-a, outro tribunal levantou esta manhã a proibição, e neste momento decorre o recurso. O problema é que o sistema legal alemão parece não ter como impedir uma manifestação convocada nestes termos, apesar de ser óbvio que se trata de uma provocação.

Andreas Geisel, por seu lado, não tem dúvidas sobre a gravidade do momento:

"A nossa Democracia pode e tem de ser capaz de aguentar muitos embates. Nós, democratas, somos capazes de lidar com opiniões contrárias. Mas a nossa Democracia não tem de aceitar tudo. E muito menos por parte daqueles que na realidade desprezam a nossa comunidade democrática. A perspectiva de que, no 80º aniversário da Noite de Pogrom do Reich, pessoas de extrema-direita possam marchar - provavelmente com velas, depois do anoitecer -  pelo Bairro do Governo é para mim insuportável.
A provocação dirigida às vítimas e aos seus descendentes é premeditada e realizada conscientemente. Trata-se de deslocar os limites do aceitável continuamente para a direita. Não podemos continuar a tolerar o extremismo de Direita sob o manto da liberdade de expressão. Este é o momento em que todas as pessoas democratas se têm de erguer e afirmar: "Stop! Daqui não passam."


Eles estão a preparar-se para marchar. Se a próxima instância não proibir a marcha, eles vão atravessar o centro geográfico da política da Alemanha Federal protegidos pela polícia. Marquei encontro com a minha filha na Hansaplatz às 16:30. Estão-se a juntar milhares de pessoas para os cercar e impedir de iniciar a marcha. E a polícia, obrigada a proteger uma manifestação autorizada pelo tribunal, será a nossa inimiga. Espero que não batam com força.

--

Em 2002 assisti a algo semelhante em Weimar. Os neonazis convocaram uma manifestação, e a população saiu de casa naquele dia horroroso de vento, chuva e neve para lhes fazer frente. O Joachim juntou-se ao grupo que impedia os neonazis de profanarem o pequeno cemitério dos judeus. E eu em casa, com os miúdos pequeninos, cheia de medo que aquilo corresse muito mal e eles ficassem órfãos.

1 comentário:

Paulo Topa disse...

Força aí! É mesmo preciso fazer frente ao regresso do nazismo e do fascismo.