A miúda disse-me que fala muito bem alemão e inglês (e também árabe, francês e maltês porque viveu dois anos em Malta). Depois tirou o papel do bolso, e anunciou: "a minha família". Sorria, com olhos cheios de confiança.
A minha amiga Rita segredou-me: "a mãe e a irmã morreram".
Lembrei-me dos três miúdos, irmãos entre os 3 e os 8 anos, da naturalidade com que contaram à professora de música no centro de refugiados: "sabes? nós perdemo-nos da nossa mãe na Grécia, e viemos sozinhos até à Alemanha. Foi aqui que ela nos encontrou."
Lembrei-me do sorriso dos jovens sírios amigos dos meus filhos a comentar, depois de os ajudarem a fazer uma mudança, que a parte desse dia em que tinham viajado no compartimento da carga da carrinha "foi muito desagradável".
Não basta dar-lhes casa, pão, segurança. Há que entender por trás do sorriso. Pode ser a sua única defesa para não se deixarem dilacerar pelo horror.
[Roubei a foto à Rita. A miúda não lhe deu o desenho - só o queria mostrar.]
1 comentário:
Já não aparecia aqui há algum tempo.... Perdi muito, e agora estava a ler, a ler acerca das eleições no Brasil, dificil ler coisas escritas no passado, com sabedoria que caíram em vazio. E cheguei aqui e os meus olhos ficaram com um elevado grau de humidade. É cada vez mais isto que nos espera. Em vez de uma rolha nos efeitos das alterações climáticas, o Sr. Que estará com a Amazônia na mao, ira piorar a vida de todos nós. Vai chegar ao ponto em que não vamos saber se é pior estar do lado de lá ou do lado de cá. O conforto de um lar quando coisas destas sucedem dia apoa dia começa a confortar muito pouco. Li o ensaio sobre a cegueira há muitos anos atras, hoje parece-me demasiado presente.
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