28 outubro 2018

eleições na RDA

Há dias o Spiegel online tinha dois artigos sobre as eleições no tempo da RDA.

Para quem não sabe como era, aqui vai a tradução (apressada, e resumindo):

I.

Eleições na RDA: folha dobrada, boca calada

Siegfried Wittenburg conta na primeira pessoa:

A ordem de Walter Ulbricht (que instalou o estalinismo na zona da Alemanha ocupada pela URSS e construiu o muro) era: "tem de parecer democrático, mas temos de controlar tudo".

Os chefes das lojas estatais tinham a incumbência de decorar as montras com material de propaganda.
No prédio onde morava com a minha mulher, os vizinhos foram convocados pelo chefe da comunidade de vizinhos (que era ao mesmo tempo polícia e responsável pela área) para serem informados sobre as bandeiras que deviam pôr às janelas. As janelas do prédio já tinham os necessários suportes. Era desagradável receber de um polícia ordens para mostrar tanta fidelidade ao regime, mas desobedecer seria um sinal que não convinha dar.
O chefe da comunidade também sugeriu que fossem todos juntos votar às 10 da manhã desse domingo, e quase todos os vizinhos se apressaram a levantar a mão em sinal de concordância.
Na sexta-feira antes das eleições, uns minutos antes de terminarmos o trabalho o responsável perguntou a cada um dos colegas: "vais votar no domingo?" Responder com um "não" teria consequências muito desagradáveis.
Ao longo de várias décadas os resultados anunciados entusiasticamente na segunda-feira seguinte eram sempre os mesmos: a população da RDA tinha votado quase unanimemente a favor da paz
e do socialismo. Os votos a favor teriam sido superiores a 99,8%. E só não eram 100% por causa de cidadãos como o meu pai, que se recusavam a ir votar. Muitos deles eram demasiado importantes para o sistema de produção, outros eram reformados que estavam a pensar ir para a Alemanha ocidental. Ignorá-los seria uma falsificação das eleições demasiado óbvia.

As assembleias de voto abriam às 8 da manhã. A população estava educada para ir votar até ao meio-dia. À tarde, fartos de esperar pelos 0,2% de eleitores que não apareciam, os ajudantes agarravam nas urnas e iam a casa desses eleitores renitentes pedir-lhes o voto.

Também eu e a minha mulher fomos votar de manhã, embora tivéssemos evitado ir em grupo com os vizinhos. Na sala havia cinco mesas. Na primeira entregávamos a folha com a convocatória para as eleições, na segunda mostrávamos os bilhetes de identidade e o funcionário fazia uma anotação, na terceira davam-nos a folha de voto com o candidato da Frente Nacional e na quarta mesa havia um funcionário que esperava sorridente até dobrarmos a folha e a metermos na urna. Por trás da quinta mesa sentavam-se dois homens extraordinariamente discretos.
Não era possível fazer uma cruz no nosso candidato favorito. Dobrava-se o boletim de voto e deitava-se na urna. Esse era o voto a favor. Para votar contra, era preciso riscar o nome do candidato. Olhei pela sala em busca da cabine. Estava a um canto, e era óbvio que os homens da quinta mesa escreveriam o nome de todas as pessoas que se aproximassem dela.
Na segunda-feira seguinte foram anunciados os resultados previamente preparados. Algumas semanas mais tarde soube-se que um jovem tinha usado a cabine antes de deitar o seu boletim de voto na urna. Todos o conheciam, e sabiam que o único voto contra que tinha sido contado era o dele. Alguns diziam "Típico! Nele, não me admira nada!"


II.

Queda do muro 1989: imagina que há eleições, e ninguém vai votar!

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