26 maio 2018

a segurança dos nossos dados

Os raixpartaosgajos que me ligam para casa a fazer de conta que são técnicos da Microsoft que detectaram um problema no meu windows não me deslargam. Às vezes são vários telefonemas por dia, "Hello, I'm calling you from Microsoft Windows Tech Support. We noticed that there are strange data flows in your PC and we care about it bla bla bla". Há dias em que os deixo falar e os aguento em linha, porque enquanto me estão a chatear a mim não estão a apanhar alguém mais incauto que vá na conversa deles. Mas é um exercício cansativo, porque tenho de estar muito atenta para não dizer um "yes" convicto. É que também há os outros raixpartaosgajos que gravam a nossa voz a dizer "sim" de forma convicta e celebram contratos em nosso nome. Outras vezes respondo-lhes em português, exigindo que falem na minha língua materna. Já cheguei a perguntar-lhes se alguém lhes paga à hora, ou se só recebem por golpe com sucesso.

Há tempos, fartíssima, respondi que não podia ser porque não tenho computador. A mulher do outro lado insistiu:
- Nem notebook, sequer?
- Não, senhora.
- Não tem nem um smarphone?
- Não.
Frustrada, quis vingar-se. Atirou-me em tom de acusação e opróbrio:
- Você é pobre!
E repetiu, maldosa:
- Você é muito pobre!

Olhei pela janela para o Porsche que está em frente à nossa casa. O Joachim queria comprá-lo, tem esperança que lhe façam um preço de pechincha, mas eu insisto que mesmo que tivéssemos o dinheiro para o comprar não o poderíamos manter, que aquela coisa de cada vez que faz VVVVRRRRRRUUUUUMMMMMMM custa dez euros. Concordei com ela:
- Tem razão, tem toda a razão. Nem dinheiro para manter um Porsche temos.
Ela desligou, furiosa. Durante uns dias tive sossego. Mas ontem recomeçaram.

Li na internet duas histórias engraçadas sobre estes golpistas. A primeira foi a de uma hacker a quem ligaram, e que, fazendo de conta que estava a seguir as instruções, arranjou de meter um vírus no computador do golpista. Hehehehe, mas é só para quem pode. A segunda, também muito boa, foi a de um velhinho que fez de conta que seguia as instruções, ia dizendo "hum-hum" e "ok...ok..." e às tantas pediu "espere um momento, por favor", pousou o telefone do outro lado da casa e foi à sua vida. Gostava de fazer o mesmo, mas não sei como é que estes criminosos conseguiram o número de telefone e o nome no qual está registado, não sei se sabem onde moro, e não sei do que serão capazes.

Esta última frase é uma achega ao debate sobre a segurança dos nossos dados e o argumento de "quem não deve não teme". É, é...

3 comentários:

Maria João disse...

Da última vez que me telefonaram - moro em Portugal -, decidi responder apenas com sucessivos 'Police headquarters. How can I help you?; Police headquarters. How can I help you?". Depois de alguns minutos, desligaram :))) Até hoje. Melhor: até ver.

Parabéns pelo seu blog. É um prazer lê-la.

MJ

FILOSOFANDO NA VIDA disse...

Amiga, achei muito interessante sua postagem. Da gosto de ler e tomar as lições dessa história. Tenha um fim de semana feliz e abençoado. Abraços da amiga Lourdes Duarte.

jj.amarante disse...

O principal custo do Porsche deve ser a sua desvalorização, face a isso o custo da gasolina não será importante. Não sei se o custo da manutenção será importante. Na Alemanha será mais caro que em Portugal dada a quantidade de automóveis alemães antigos de boa marca que se vêem por cá.