[ Enquanto ainda é dia 9 no Peru;)
mais um post rápido sobre #ouro ]
[ Queria escrevê-lo ontem, mas andei o tempo todo a hesitar, "não me
digas que vais contar outra vez essas histórias que já toda a gente
ouviu várias vezes?!", mas é mais forte do que eu, e portanto: ]
Post tipo carro vassoura para apanhar as histórias que por aí tenho
largado sobre o ouro que me passou ou não passou pelas mãos:
1.
Na altura em que eu comecei a ler os livros dos Cinco e dos Sete, o meu
pai vendeu a "quintinha minhota" do pai dele, que significava muito para
a miúda de sete anos que eu era. Na última visita que fiz à casa,
combinei com o meu irmão olharmos para tudo com muita atenção, porque
podia haver um tesouro escondido e se o encontrássemos já não era
preciso vender a casa. Assim fizemos, mas não encontrámos nada. A casa
foi vendida, o novo dono começou a fazer obras, e logo encontraram um
pote cheio de libras de ouro. Há tempos falei com o homem que o
encontrou. Disse-me que estava numa caixa de areia, numa das lojas do
piso térreo, por baixo das escadas do alçapão. Ele pensou "que coisa tão
esquisita, esta caixa com areia - deixa cá ver o que tem dentro", meteu
a mão, e bateu no pote. Lembro-me perfeitamente (enfim, penso que me
lembro) dessa caixa, e do nojo que senti ao olhar para ela. Da próxima
vez, hei-de ler os livros dos Cinco com mais atenção.
2. Uma vez
mudei para uma casa onde ainda havia pintores a trabalhar. O camião
trouxe as nossas tralhas, e eu trouxe as coisas de valor no nosso carro.
Um dos pintores era um tarefeiro temporário da empresa de pintura, e
veio a descobrir-se que era gatuno. Penso mesmo que seria cleptomaníaco,
porque começou por roubar o desodorizante e o perfume do Joachim, que
já iam a meio. O Joachim achou estranho essas coisas desaparecerem da
casa de banho e eu respondi que se calhar os teria perdido no meio dos
caixotes, de modo que quando eu lhe telefonei no dia seguinte a dizer
que o meu porta-moedas tinha desaparecido, e a pedir para ele cancelar
os cartões, ripostou que eu devia procurar melhor no meio dos caixotes. E
foi aí que caiu a ficha: fui ao sítio onde tinha deixado as minhas
caixas com as coisas mais valiosas, e faltava todo o ouro das minhas
avós minhotas. O gatuno cleptomaníaco, digamos assim, tinha visto
exactamente os volumes que eu trouxera de carro, e onde os deixara.
Ora bem: o meu middle name é "sempre em pé" - só pode ser. Ao descobrir
que os cordões, os brincos, os trancelins, tudo tudo tudo tinha
desaparecido, o meu primeiro impulso foi: "olha, agora já posso ir de
férias descansada, já não temo que alguém entre em casa para me roubar o
ouro".
Umas semanas mais tarde assisti ao desfile das mordomas nas
festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo. Ao ver todas aquelas
peças iguais às que me tinham roubado, fiquei em paz com essa perda.
Senti que tudo isso ainda estava no mundo. Já não numa gaveta minha, mas
por aí.
3. Quando a minha filha nasceu, uma grande amiga
ofereceu-lhe uma pulseirinha de ouro dizendo-me, com uma piscadela de
olho, que aquilo provavelmente não serviria para nada à bebé, mas quando
chegasse aos 15 anos ia dar muito jeito para trocar por droga. A
pulseirinha ainda aí anda (por sorte o palerma do pintor não a roubou).
Das duas, três: ou não precisou, ou então a mesada era tão alta que dava
para todas as despesas, ou então dong dong dong estão a bater as doze
horas, tenho de me calar imediatamente porque daqui a nada o ouro
transforma-se numa abóbora.
--
Comentários de colegas enciclopedistas:
I. Um
belo dia foram dois homens lá a casa mudar o papel de parede, anos
setenta,talvez. A paginas tantas foi preciso afastar o baú dos lençóis
e a minha mãe comentou que era muito pesado mas não era o baú das
libras!
Resposta imediata:
- Pois não, essas, (o ouro) já nos caíram na cabeça ao tirar a sanefa da entrada !
II. Acerca
da perda de ouro da família. Um dia na clínica a mãe deu-me um saquinho
com um lenço de papel dentro eu pensei que seria para deitar no lixo e
deitei (deitei o ouro da avó que ficou internada na clínica no lixo,
acho que ninguém acredita que o deitei no lixo).
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