O telefone tocou, e era a polícia. Por causa de um cãozinho que estava entregue ao nosso cuidado, fugiu ao Matthias - pregando-nos um susto monumental porque foi um dos dias mais frios deste Inverno - e ao fim de cinco horas nos foi devolvido pela polícia.
A polícia telefonou agora para informar que o bichinho mordeu o homem que o conseguiu capturar. Mordeu duas vezes, e da segunda vez não largava, de modo que lhe fez uma ferida feia, que acabou por ter de ser operada. Por causa disso têm de abrir um processo de ofensa à integridade física por negligência, e precisavam de saber quem estava com o cão no momento em que ele fugiu, para ser responsabilizado.
Não há dúvida: uma mãe é uma mãe é um mãe. Apesar de o rapaz já ter vinte anos, hesitei uns momentos, pensando se dizia o meu nome ou o dele, e acabei por dizer a verdade. Senti-me uma traidora: a mãe que entrega o filho à polícia!
Quando contei ao Matthias, ele riu-se da minha hesitação. Depois falámos daquela vez em que fomos controlados a regressar da Holanda - eu e os meus filhos adolescentes. Quando a polícia nos começou a abrir as malas, ponderei a possibilidade de um daqueles dois ter feito o disparate de ir a um coffee shop (quem nunca fez disparates aos 15 ou 16 anos que atire a primeira pedra) e comecei a pensar como reagiria se a polícia descobrisse alguma coisa. Deixava as coisas seguirem o seu rumo, ou dizia "isso é meu"? Os polícias não encontraram nada, e os meus filhos foram o resto da viagem a rir-se de mim e dos meus medos de mãe de adolescentes. "Que é que pensas de nós, mãe? Francamente!" Uma mãe é uma mãe é uma mãe (e eu sou das que odeia enfiar um golo na baliza dos filhos): preferi deixá-los gozar à vontade, sem lhes lembrar episódios passados que justificariam os meus medos.
O caso vai-se resolver, claro. O Matthias tinha levado o cãozinho à casa da vizinha, para ele sentir um pouco da sua normalidade, e teve o cuidado de fechar o portão. O bicho, que nunca antes tinha fugido, encontrou uma abertura minúscula na sebe do jardim e escapou para a rua. Já nunca mais o apanhámos - e andámos umas boas três horas à procura dele. A polícia disse-me que temos boas hipóteses de o caso ser arquivado.
Agora estou a ver se descubro o contacto do homem que foi mordido, para o Matthias fazer brownies de chocolate e levar à casa dele.
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