20 janeiro 2017

"empatia"

Ontem, a palavra do dia na Enciclopédia Ilustrada era "empatia". Escolhi eu, e bem me arrependi, primeiro porque devia ter escolhido "Elis" (nos 35 anos da morte da Elis Regina) e segundo pelos motivos que assim descrevi:

Nota mental: ter muito cuidadinho com as palavras que escolho.
Hoje foi #empatia, e por causa disso (sim, de certeza que foi por causa disso...) passei quatro horas terríveis, com o coração nas mãos, a sofrer por interposta pessoa e sobretudo por interposto cão.
Caso queiram saber tudo: a minha vizinha está a tomar conta do cãozinho da irmã, e deixou-o hoje aqui porque saiu para uma viagem de 4 dias.
O desgraçado do bicho, ao ver a irmã da dona ir embora sentiu que estava a ser abandonado pela segunda vez numa semana, e deitou-se na caminha dele a tremer de tristeza. Uma coisa de desfazer até o coração do menos empático. Para o animar, o Matthias levou-o ao jardim da vizinha. O bicho viu uma abertura na sebe, enfiou-se por ela e desatou a fugir a toda a brida. O Matthias foi a correr atrás dele, mas perdeu-lhe o rasto. Começámos a bater o bairro. Uma hora mais tarde, encontrei uma senhora que o tinha visto a correr como um desesperado na direcção da floresta. Fomos para a floresta, que é enorme. Não havia qualquer sinal do bicho. E estava cada vez mais frio (4 graus negativos) e mais escuro.
Voltei para casa, com o coração do tamanho de uma ervilha. Sofria com a ideia daquele cãozinho de pelo curto a passar a noite sozinho na floresta - assustadíssimo, e em risco de morrer de frio. Pensava na tristeza dos donos. Pensava no meu filho, e em como devia estar a sentir-se miseravelmente.
Telefonei à polícia, mas não havia notícia do bicho.
Estava tão desesperada que cheguei a pensar telefonar à minha sogra. O Santo António tem uma estranha empatia por ela, encontra-lhe tudo o que ela pede. O problema é que o Santo António dela é muito careiro - o Joachim uma vez teve de pagar 100 euros por um caderno do laboratório que esqueceu no avião.
Por sorte não liguei, porque o telefone tocou e era a polícia, a avisar que um carro patrulha vinha trazer o cãozinho a nossa casa. A senhora que o encontrou, disseram, passou duas horas a tentar apanhá-lo e descobrir quem era o dono, e estava muito aliviada por saber que já estava outra vez em casa. Pelo modo como a polícia me contava, fiquei com a sensação que havia uma onda de bem-querer à volta deste bicho.
Agora estou aqui como se tivesse levado uma tareia. Só vos digo que a empatia hoje me saiu do corpinho.
Amanhã é F. Se fosse eu a mandar, escolhia fleuma.


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