Ontem, a palavra do dia na Enciclopédia Ilustrada era "empatia". Escolhi eu, e bem me arrependi, primeiro porque devia ter escolhido "Elis" (nos 35 anos da morte da Elis Regina) e segundo pelos motivos que assim descrevi:
Nota mental: ter muito cuidadinho com as palavras que escolho.
Hoje foi
#empatia, e por causa disso (sim, de certeza que foi por causa disso...)
passei quatro horas terríveis, com o coração nas mãos, a sofrer por
interposta pessoa e sobretudo por interposto cão.
Caso queiram
saber tudo: a minha vizinha está a tomar conta do cãozinho da irmã, e
deixou-o hoje aqui porque saiu para uma viagem de 4 dias.
O desgraçado do bicho, ao ver a irmã da dona ir embora sentiu que estava a ser abandonado
pela segunda vez numa semana, e deitou-se na caminha dele a tremer de
tristeza. Uma coisa de desfazer até o coração do menos empático. Para o
animar, o Matthias levou-o ao jardim da vizinha. O bicho viu uma
abertura na sebe, enfiou-se por ela e desatou a fugir a toda a brida. O
Matthias foi a correr atrás dele, mas perdeu-lhe o rasto. Começámos a
bater o bairro. Uma hora mais tarde, encontrei uma senhora que o tinha
visto a correr como um desesperado na direcção da floresta. Fomos para a
floresta, que é enorme. Não havia qualquer sinal do bicho. E estava
cada vez mais frio (4 graus negativos) e mais escuro.
Voltei para
casa, com o coração do tamanho de uma ervilha. Sofria com a ideia
daquele cãozinho de pelo curto a passar a noite sozinho na floresta -
assustadíssimo, e em risco de morrer de frio. Pensava na tristeza dos
donos. Pensava no meu filho, e em como devia estar a sentir-se
miseravelmente.
Telefonei à polícia, mas não havia notícia do bicho.
Estava tão desesperada que cheguei a pensar telefonar à minha sogra. O
Santo António tem uma estranha empatia por ela, encontra-lhe tudo o que
ela pede. O problema é que o Santo António dela é muito careiro - o
Joachim uma vez teve de pagar 100 euros por um caderno do laboratório
que esqueceu no avião.
Por sorte não liguei, porque o telefone
tocou e era a polícia, a avisar que um carro patrulha vinha trazer o
cãozinho a nossa casa. A senhora que o encontrou, disseram, passou duas
horas a tentar apanhá-lo e descobrir quem era o dono, e estava muito
aliviada por saber que já estava outra vez em casa. Pelo modo
como a polícia me contava, fiquei com a sensação que havia uma onda de
bem-querer à volta deste bicho.
Agora estou aqui como se tivesse levado uma tareia. Só vos digo que a empatia hoje me saiu do corpinho.
Amanhã é F. Se fosse eu a mandar, escolhia fleuma.
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