20 janeiro 2017

ara mateix, 75 anos depois da Conferência de Wannsee

 

"I. No dia 20 de Janeiro de 1942 em Berlim, Am Großen Wannsee, 56/58, teve lugar uma reunião sobre a solução final da questão judia, na qual participaram: "

Começa assim a acta da reunião da Conferência de Wannsee. Esta reunião tinha sido prevista para 9 de Dezembro de 1941, mas teve de ser adiada devido ao ataque japonês a Pearl Harbor e a entrada dos EUA na guerra. Já antes desse ataque os judeus tinham sido considerados o maior perigo para o mundo dos delírios nazis, em particular por estarem - alegadamente - do lado dos bolcheviques. Mas aquelas cabeças sinuosas conseguiam ir bem mais longe em termos de incoerência e construção de ficções. Poucos dias depois da entrada dos EUA na guerra, Goebbels escreveu no seu diário que Hitler tinha avisado os judeus que seriam destruídos se provocassem de novo uma guerra mundial, e que isso não era uma ameaça vã. "A guerra mundial está aí, a exterminação dos judeus tem de ser a consequência necessária. Esta questão tem de ser vista sem qualquer sentimentalismo."

Em Janeiro, Heydrich envia um convite a responsáveis de vários serviços administrativos para um encontro numa bela mansão em frente ao lago Wannsee, "uma reunião seguida de pequeno-almoço".







Era uma reunião estratégica, que tinha como objectivos deixar claro que o processo de extinção do povo judeu, já em curso, estava na mão da SS, e combinar procedimentos de modo a aumentar a eficácia da máquina. Para conquistar a boa vontade dos serviços envolvidos na "solução final", organizaram uma reunião num lugar paradisíaco, seguida de uma refeição, em vez de convocarem para uma reunião na central da SS em Berlim. O poder da máquina nazi tinha as suas limitações, e em alguns casos não era possível nem suficiente dar ordens - o regime via-se obrigado a recorrer a outros métodos para convencer alguns responsáveis do aparelho estatal da necessidade do empreendimento, e fazê-los sentir-se parte natural da máquina e responsáveis pelo seu absoluto sucesso.

Uma reunião seguida de pequeno-almoço em frente ao lago Wannsee - com papas e bolos se enganaram os tolos. O que teria sido a "solução final" se os convidados responsáveis dos serviços tivessem alegado uma gripe nesse 20 de Janeiro? Se tivessem usado o seu poder para ir metendo grãos de areia na engrenagem? Quando do horror nazi teria sido poupado ao mundo se, naquele tempo, cada pessoa decente tivesse sabido resistir em vez de desviar o olhar?

Por coincidência, hoje toma posse como presidente dos EUA um homem que já demonstrou não respeitar muitos dos valores que considerávamos básicos e incontestáveis no nosso mundo, e sentimo-nos impotentes, chocados e assustados. Tememos um retrocesso da História, sentimo-nos ameaçados pela sombra de novas e ainda mais terríveis guerras. Que estará ele a preparar contra os mais frágeis da nossa sociedade? Que será ele capaz de fazer ao nosso mundo?

Lembremos este detalhe importante da História: mesmo o poder de Hitler e da máquina do terror nazi eram limitados. O futuro não está todo na mão dos poderosos. Basta de choraminguices e medos. Ainda estamos a tempo de nos apercebermos da nossa responsabilidade e da nossa força. É hora de nos treinarmos no uso dos nossos poderes, estar atentos, resistir aos engodos, e decidir segundo a nossa consciência. "Que tudo está por fazer, e tudo é possível."

Por estes dias, impossível não lembrar "Ara Mateix", de Miquel Martí i Pol:
(a tradução para espanhol vem a seguir)

I som on som; més val saber-ho i dir-ho
i assentar els peus en terra i proclamar-nos
hereus d'un temps de dubtes i renúncies
en què els sorolls ofeguen les paraules
i amb molts miralls mig estrafem la vida.
De res no ens val l'enyor o la complanta,
ni el toc de displicent malenconia
que ens posem per jersei o per corbata
quan sortim al carrer. Tenim a penes
el que tenim i prou: l'espai d'història
concreta que ens pertoca, i un minúscul
territori per viure-la. Posem-nos
dempeus altra vegada i que se senti
la veu de tots solemnement i clara.
Cridem qui som i que tothom ho escolti.
I en acabat, que cadascú es vesteixi
com bonament li plagui, i via fora!,
que tot està per fer i tot és possible.
(...)
Convertirem el vell dolor en amor
i el llegarem, solemnes, a la història.


Ahora mismo


Mejor saber que estamos donde estamos,
fijar los pies en tierra y proclamarnos
herederos de un tiempo de renuncias
en el que el ruido ahoga las palabras
y la vida en espejos deformados.
de nada valen quejas ni añoranzas,
ni la melancolía displicente
puesta como jersey o por corbata
al salir a la calle. Poseemos
apenas el espacio de la historia
concreta que nos toca, y un minúsculo
lugar para vivirla. Nuevamente
pongámonos en pie y que nuestra voz
solemnemente y clara vuelva a oírse.
Que todos puedan escuchar quien somos.
y al final, que se vista cada uno
como bien le parezca y ¡a la calle!
que todo está por hacer y todo es posible.
(...)
Cambiamos en amor el dolor viejo
y a la historia, solemnes, lo legamos.


1 comentário:

Dani Tobias disse...

Vi poucos policiais!