Coisa estranha, um coro: a fragilidade da beleza, inteiramente à mercê da qualidade de cada um, e da capacidade de cada um se combinar com todos. Dezenas de cantores, e nenhum se quer extraordinário em relação aos outros; e basta um distrair-se por um segundo para quebrar a beleza e a magia do momento.
Este é o fim-de-semana dos concertos do meu coro. Somos um coro amador. Investimos horas e horas e mais horas e mais horas, e depois expomo-nos ao público. Nem tudo corre bem, e pergunto-me porque fazemos isto - a nós, ao maestro e ao público.
Mas depois penso que a nossa vida seria bem mais pobre se a música pertencesse apenas aos profissionais que a produzem, e nós nos remetêssemos ao papel de consumidores. Além disso, há aqueles momentos em que fazemos acontecer o milagre da perfeição. Só por esses já vale a pena.
O programa preparado para este concerto inclui, para além da parte coral, algumas danças de Dvořák e Brahms e peças de Schumann e de Bizet, tocadas por duas jovens pianistas. Sorte a nossa, sentados à volta delas a saborear a sua arte.
Tocam uma das danças eslavas de Dvořák com tal expressão que tenho de me conter para não me levantar, e desatar a dançar de peito erguido a coreografia que a música manda, imperiosa.
(Versão para dois pianos aqui.)
Do Bizet, sublinho esta gracinha: Petit mari, petite femme.
Outras peças do nosso programa:
Dvořák, Na Natureza, op. 63:
1.
3.
4.
Brahms, Liebeslieder, op. 52
Usar esta gravação para ensaiar a minha voz é um prazer enorme: acompanhada por Benjamin Britten e Claudio Arrau a quatro mãos ao piano, e a minha voz ali, feita valente, a ajudar a Janet Baker que, coitada, não consegue fazer-se ouvir bem na refrega com Heather Harper, Peter Pears, Thomas Hensley.
("Na refrega", diz ela, hehehe)
O nosso concerto termina com um poema que Rilke escreveu em francês:
Abandon entouré d'abandon,
tendresse touchant aux tendresses...
C'est ton intérieur qui sans cesse
se caresse, dirait-on;
se caresse en soi-même,
par son propre reflet éclairé.
Ainsi tu inventes le thème
du Narcisse exaucé.
tendresse touchant aux tendresses...
C'est ton intérieur qui sans cesse
se caresse, dirait-on;
se caresse en soi-même,
par son propre reflet éclairé.
Ainsi tu inventes le thème
du Narcisse exaucé.
1 comentário:
Parabéns Helena, o que isto a deve enriquecer!
E a nós também...
~CC~
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