07 junho 2016

o Jovem "Conversador" de Direita está cada vez melhor




Já aqui disse que estava capaz de apostar que sei quem é o autor do Jovem Conservador de Direita. Apostava, mas não digo o nome, porque assim não me envergonho se não for, e além disso deixo a pairar a ideia de que "sei coooiiiisas..."
(Mas que maneira tão fácil de parecer poderosa!)

Também disse que, em termos de genialidade na construção de um heterónimo, já se podia equiparar esse autor ao Fernando Pessoa. Não é qualquer um que consegue defender de forma tão coerente e razoável o contrário daquilo em que acredita.

Escrevi mais ou menos isto há seis meses, e por um triz escapei de repetir tudo sem me dar conta. Valeu-me uma busca no google que desembocou no meu próprio blogue. O JCD é o meu detector pessoal de velocidade de galope do Alzheimer. Menos mal: mais divertido e mais barato que um teste de ressonância magnética.

Voltando ao título do post, que é o que aqui me trouxe, aqui vos deixo o exemplo mais recente:

5 razões que provam que o Dr. Harry Potter é de direita 

Nos últimos dias percebi que o Dr. Harry Potter tem fãs de esquerda bastante extremistas. Só a simples menção do facto evidente de que os alunos de Hogwarts estariam ao lado dos colégios privados na polémica dos contratos de associação, levou a que fosse mais odiado por alguns deles do que o Dr. Cujo nome não deve ser pronunciado. Isto fez-me querer saber mais sobre os livros do Dr. Harry Potter. Terei eu analisado mal este fenómeno da cultura popular e interpretado incorrectamente esta série de livros como literatura juvenil de direita? Claro que não. Depois de ter ouvido o meu estagiário a falar sobre estes livros durante 5 minutos cheguei à conclusão definitiva de que o Dr. Harry Potter é um herói de direita, sem margem para dúvidas. As razões são as seguintes:

1. Hogwarts é um colégio saudavelmente elitista

Hogwarts é um colégio de direita. Para começar, os alunos eram obrigados a usar uniforme. Não havia t-shirts do Che Guevara, nem meninas em trajes menores. Além disso, só os melhores entravam em Hogwarts. Sendo que "melhores" no contexto de Hogwarts quer dizer "portadores dos melhores genes". Um Muggle bem pode estudar uma vida inteira para ser feiticeiro que, chegando à idade, não só não vai receber a desejada carta de Hogwarts como, se ousar ser pró-activo, ainda ganha um traumatismo craniano ao tentar atravessar o portal para a plataforma 9 e 3 quartos. Se a esquerda mandasse no Ministério da Magia, iriam tratar de arranjar quotas em Hogwarts para Muggles por questões de integração e diversidade. Isto ia levar a uma quebra dos níveis da qualidade de Hogwarts e, em pouco tempo, estariam a abrir disciplinas completamente inúteis para um feiticeiro (e para qualquer pessoa) como Sociologia, Filosofia ou Artes Dramáticas.

2. Hogwarts forma feiticeiros tendo em conta necessidades de mercado, sem quaisquer inclinações ideológicas

Hogwarts é um colégio completamente virado para o mercado de trabalho na área da feitiçaria. As disciplinas leccionadas não permitem qualquer interpretação ideológica. São áreas técnicas como Herbologia, Poções, Feitiços ou Defesa contra as Artes Negras (as artes marciais dos feiticeiros). A única disciplina remotamente de esquerda é Adivinhação, a disciplina da tresloucada hippie Prof. Trelawney e que é referida nos livros como uma perda de tempo, por ser inútil e que só é escolhida pelo Dr. Harry Potter para encher chouriços porque é fácil. Curiosamente é também a única disciplina onde se apela à criatividade, na interpretação de borras de café, por exemplo. Isto mostra claramente que a criatividade é um aspecto secundário e opcional da aprendizagem. Um feiticeiro não tem de ser criativo, tem ser bom. Hogwarts prepara os seus alunos para serem bons técnicos de feitiçaria, não os prepara para serem intelectuais de feitiçaria daqueles que falam muito mas, quando pegam na varinha, são incapazes de evocar um simples Expelliarmus. Não há cá análises críticas sobre o que são artes negras (artes negras são más, ponto, não há cá cinzentos nem análises de contexto), nem questionamento sobre o papel do feiticeiro na luta contra o neoliberalismo. Os alunos estão em Hogwarts para fazer, não para "pensar".

3. A saga do Dr. Harry Potter retrata o triunfo da direita conservadora contra a extrema direita grunha

A luta entre a direita conservadora e a extrema direita grunha é um combate que, pessoalmente, me diz muito, dado os meus confrontos recentes com militantes do PNR. Esta luta é o grande fio condutor dos livros do Dr. Harry Potter. Vejamos, o Mundo da feitiçaria é conservador de direita. A ordem estabelecida é tipicamente conservadora. Há famílias poderosas de feiticeiros que zelam pelo bem comum, que coexiste com um sistema meritocrático que permite a ascensão de descendentes de Muggles especiais que o mereçam. Mas não há grandes misturas. Vivem em harmonia na sua desigualdade. Os feiticeiros protegem os Muggles mas, para além disso, não querem nada com eles. Tudo funciona bem e de forma pacífica. A única ameaça são os grunhos de extrema direita, os autodenominados Devoradores da Morte, que querem purificar o sangue dos feiticeiros e não olham para os Muggles como pessoas, mas sim como animais que só atrapalham os feiticeiros. O Dr. Harry Potter e companhia unem-se para proteger a ordem estabelecida conservadora da ameaça progressista e revolucionária do Dr. Voldemort.

4. Os homossexuais sabem como viver sem pecado

Segundo a Dra. JK Rowling, o Dr. Dumbledore era homossexual. Fiquei muito contente quando soube desta revelação porque o Dr. Dumbledore é um exemplo para todos os homossexuais, visto que prova que é possível manter uma vida virtuosa, ao mesmo tempo que se tem instintos pecaminosos. Se a saga do Dr. Harry Potter fosse de esquerda o Dr. Dumbledore não era director. Abraçaria a sua homossexualidade e partiria para a América do Sul à procura de orgias com esbeltos feiticeiros latinos peritos em feitiços dirigidos ao aumento de certas partes do corpo. Mas, em vez disso, sabendo que possuía uma orientação sexual pecaminosa, manteve-se no sítio onde, como grande feiticeiro que era, poderia ser útil. Não querendo formar uma família tradicional, como era seu direito, tomou a segunda melhor opção: dedicou a sua vida à academia e ao bem comum. É um excelente exemplo de que, só porque uma pessoa é homossexual, não precisa de ter comportamentos pecaminosos.

5. A esquerda aparece apenas como um exemplo das fantasias próprias de adolescentes idealistas e ingénuos A única causa remotamente de esquerda defendida nos livros é a defesa da libertação dos elfos domésticos levada a cabo pela Dra. Hermione. Chega a ser cativante, assistir a esta ingenuidade própria da adolescência da Dra. Hermione a favor dos "pobres e oprimidos". No final, libertam alguns elfos domésticos mas, a maior parte deles, os que são bem tratados pelos seus donos, prefere manter-se na escravidão porque só assim são felizes. Ao fim ao cabo, os elfos domésticos são electrodomésticos feitos de carne. Como qualquer electrodoméstico nasceram para ser escravizados mas revoltam-se se forem maltratados. Experimentem tratar a vossa máquina de lavar roupa ao pontapé. Um dia ela vai revoltar-se e vai deixar de funcionar. Foi o que aconteceu com o Dobby. Era maltratado pelos Malfoys e revoltou-se. Se o tivessem tratado bem, ele ter-se-ia mantido feliz como escravo.

Se, perante esta argumentação, continuarem a achar que o Dr. Harry Potter é de esquerda e um defensor da escola pública é porque a vossa cegueira ideológica vos impede de ver a realidade.


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