08 junho 2016

mais um post onde se fala de refugiados (isto sou eu a escrever a palavrinha mágica para aumentar o número de leitores)

O dicionário informa que o equivalente português de "Vorfreude" é "antecipação".
Antecipação?! Isso não me serve para descrever a feliz expectativa enquanto avançava para este Junho, o mês berlinense do Philippe Jaroussky. Meio ano de Vorfreude a olhar para os tantos bilhetes que comprei para toda a família, imaginando a beleza que nos seria dada.

O problema é que, como bem diz o ditado, "o homem põe, e Deus dispõe":

Primeiro, foram os meus filhos que disseram que não podiam ir a esses concertos (algo me diz que são um caso de lost in translation: ainda tenho de lhes ensinar o significado de Vorfreude). Decidimos oferecer os bilhetes a alguns dos seus amigos sírios, e escusado será dizer que estes souberam traduzir muito bem Vorfreude para a sua língua materna. Em especial um deles, que tem andado a receber hate mail ("vai para a tua terra! ninguém te quer aqui!), além de uma carta oficial que o está a preocupar imenso, informando que, segundo o tratado de Dublin, tem de voltar ao país pelo qual entrou na Europa. Agora que conseguiu chegar tão longe, e até já trabalha em Berlim como informático, teme ser enviado para um campo de refugiados na Turquia.

Segundo, foram os concertos que tiveram de ser todos cancelados por motivos de saúde do Philippe Jaroussky.

O problema da Vorfreude é quando se desfaz em dolorosos sacões, como um balão bojudo com a saída de ar aberta, largado à solta.

O homem põe, Deus dispõe, mas eu remato "hahaha, não me doeu nada, hahaha, até estou a rir, hahaha, vês?" É que àqueles sírios já ninguém rouba a alegria de lhes terem sido oferecidos bilhetes para concertos do Jaroussky. Ao menos isso.


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