14 abril 2016

em primeira mão

(foto)

Onde está a televisão portuguesa, que eu estou aqui mortinha por contar o que senti quando passei ao fundo do Ku'damm e vi o início do que, vim a saber depois, era uma monumental razia que fizeram no bordel Artemis (falei dele neste post, quando festejava 10 anos), e ninguém me pergunta?

Então aqui vai o testemunho, em primeira mão: saímos de casa atrasados, por causa de coisas importantes mas que não interessa relatar, e quando chegámos à rotunda ao fundo do Ku'damm para entrar na auto-estrada vimos que havia sarilho. Tinham acabado de fechar o acesso àquela zona, e havia inúmeros carros de polícia ao longo da rua paralela à auto-estrada. Claro que pensámos logo numa ameaça de atentado terrorista, e fomos à nossa vida. Ao ver o engarrafamento brutal que já se formava, e dentro dele vários autocarros que fazem o serviço de quatro estações do anel de S-Bahn enquanto a linha está em obras, desatei a criticar a polícia. Que é preciso planear estas coisas, que é preciso avisar as empresas dos transportes públicos, coitados dos clientes da S-Bahn parados em Westkreuz, a tentar ver passar os autocarros e só vêem passar polícias, quantos deles iriam perder o avião em Tegel?, etc. (tendo em conta que supúnhamos um ataque terrorista, estas minhas reacções são quase ao nível da mulher que foi ao moinho pesar-se e encontrou um morto, eu bem digo que a televisão devia ter vindo falar comigo). Depois fomos ao que íamos, e quando regressámos aquela parte da auto-estrada ainda estava fechada, e havia uma fila de meio quilómetro de carrinhas da polícia.

Por uma vez sem exemplo encontrei notícias na internet sobre o que se passava em Berlim: 900 pessoas (dos quais 680 polícias) a fazer uma razia ao bordel, por suspeita de fuga aos impostos e às contribuições para a Segurança Social, tráfico humano, ligação aos Hell Angels (que terão forçado mulheres a prostituir-se nesse bordel). As suspeitas vinham escritas por esta ordem em todas as notícias que li: primeiro a fuga aos impostos e à Segurança Social, depois a prostituição forçada. Mas esta manhã o nosso diário berlinense já punha os crimes na ordem certa: primeiro a prostituição forçada, depois a fuga às contribuições para a Segurança Social (faziam de conta que as prostitutas trabalhavam por conta própria) e a fuga aos impostos, num total que se estima chegar aos 23 milhões de euros. Meu rico Tagesspiegel, se não tivesse já uma assinatura anual, era agora que a fazia.
A polícia prendeu seis pessoas (os dois proprietários e as quatro encarregadas do sector produtivo, digamos assim) e levou 212 pessoas (entre prostitutas, empregados e clientes) para prestarem declarações. Coitados dos homens que foram lá só para dar um pulinho entre o trabalho e o jantar, tiveram de telefonar para casa a dizer que tinham uma reunião inesperada que ia durar a noite toda.

Se quiserem ver imagens da dimensão da coisa, espreitem este site.

"E como é que se sente?"
Com vontade de dizer disparates, do género: parece que vão fechar o bordel, que era uma das poucas empresas produtivas desta cidade, e depois admiram-se que Berlim tenha uma dívida de sessenta mil milhões de euros. Deixem-nos trabalhar!, como dizia o Cavaco. Etc.


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