31 março 2016

viver no anonimato de Berlim

Liguei para a secretaria de um coro de música antiga, para fazer umas perguntas e comprar bilhetes para a Paixão segundo S. Mateus, na sexta-feira santa. Era sábado, a chamada foi redireccionada para a cozinha de alguém do coro, que me atendeu com toda a simpatia, e no meio do barulho das panelas, que eu bem ouvia, me ia explicando que os instrumentos usados nesse concerto não são originais barrocos mas são construídos e afinados segundo modelos históricos, e me dizia números de frequência de vibrações e coisas assim que não percebi nada mas me pareceram muito convincentes.

De modo que encomendei quatro bilhetes, e ela disse que para simplificar mos ia mandar pelo correio, com uma factura, para eu pagar quando os recebesse. Agradeci a confiança, ela disse que nunca teve más experiências com esta modalidade, e comecei a dar o nome e a morada. Também eu gosto de simplificar: em vez de soletrar o meu nome ao telefone, digo o do meu marido, muito mais fácil para os alemães. Ela comentou: "ah, que engraçado, o meu vizinho também se chama assim!"

Numa cidade de quase quatro milhões de habitantes, a senhora com quem brinco sobre a possibilidade de eu ser desonesta é vizinha de um primo do meu marido!
"Bom, sendo assim estou a ver que vou mesmo ter de pagar os bilhetes", disse eu, e despedimo-nos a rir.


1 comentário:

Raquel disse...

Obrigada, esta pequena história fez-me sorrir.