18 março 2016

pura e simplesmente terrorismo



Onze minutos de brutalidade e de incitação à violência. Só consegui ver metade.
O Donald Trump não vai ser presidente, mas este vídeo mostra os danos enormes que já causou, e que são dificilmente reparáveis. A violência está nos corações e na rua, as pessoas sentem-se cada vez mais livres e justificadas para fazerem um discurso racista, xenófobo e/ou islamofóbico no espaço público. E para passarem das palavras à acção.

Na Alemanha foram registados, no ano passado, mais de 800 ataques contra refugiados (ataques a casas, graffiti xenófobo, violência corporal, manifestações, etc.). Em 2014 tinham sido 198, em 2013 foram 55 e em 2012 apenas 24. É certo que a partir de determinado momento a Polícia e a população começaram a estar muito mais atentas a esta realidade, o que explica em parte o aumento dos casos registados, mas mesmo contando com números mais altos e não registados em anos anteriores, é óbvio que a Alemanha se debate com um problema gravíssimo e crescente de violência contra estes estrangeiros.

Ontem o sistema jurídico deu um sinal claro de como pretende proteger o país desta onda de ódio. Como noticia o Spiegel online: oito e sete anos para os dois homens que, a 28 de Agosto do ano passado, fizeram um cocktail molotov e o atiraram para dentro de um apartamento onde vivia uma família de refugiados, quatro anos e meio para a mulher que os conduziu ao local. O tribunal deu por provado que se tratou de um ataque "de fundo ideológico, melhor dizendo: ódio racista e xenófobo nazi", e que os três não tinham qualquer dúvida de que nesse ataque podiam morrer pessoas. Só por acaso é que a criança de quatro anos, para cujo quarto eles atiraram o explosivo, não morreu. Nessa noite estava a dormir no quarto da mãe.
O juiz Wolfgang Rosenbusch, conhecido por ser muito directo, afirmou que os dois autores do ataque se inspiravam desde há muito na ideologia nazi, difamando com base na etnia, cor de pele e religião, e aprovando o extermínio em massa conduzido por Hitler. O tribunal vê aqui um claro compromisso com a loucura racial nazi, patente nos factos - que falam por si.  
Para o Spiegel online, a assertividade do juiz não é tanto um aviso para os extremistas de Direita que queiram eventualmente fazer ataques semelhantes, mas um sinal para as pessoas que procuram abrigo na Alemanha. Como é o caso da família vítima deste ataque: uma viúva do Zimbabwe, que fugiu com os três filhos pequenos ao terror do Mugabe, depois de terem assassinado o seu marido. "Tudo aquilo de que vinha a fugir, encontrou de novo aqui", diz o juiz Rosenbusch.

A mulher que conduziu os dois atacantes ao local do crime, que tem 24 anos e cria sozinha dois filhos (e se gaba de ter ensinado o de dois anos a dizer "Sieg Heil"), também foi muito criticada pelo juiz: "a senhora concluiu a Realschule, não é propriamente idiota. Sabe perfeitamente o que acontece quando se atira uma garrafa cheia de gasolina para dentro de uma casa."
Também ela fora movida por ódio racial, como revela um chat do WhatsApp. Nessa noite, a mãe pergunta-lhe: "Que é que vocês fizeram? Molotovezinho no centro de refugiados. Na na na", e a filha responde "Portámo-nos todos muito bem. Fizemos ó-ó. Mas não faz mal nenhum."
Quatro anos e meio de prisão, quatro meses mais do que pedia a acusação.

Nem o advogado de defesa de um dos réus foi poupado. O seu esforço de esbater o extremismo de direita do seu cliente, "se pusermos numa panela de sopa todos os indícios que atiçam a suspeita de xenofobia, e mexermos, o que obtemos no fim será mesmo nacional-socialismo?", foi liminarmente rejeitado pelo juiz. "O que vemos nessa sopa é a careta monstruosa do nazismo", respondeu o juiz. E acrescentou, virado para os réus: "O que os senhores fizeram é, nada mais, nada menos, o que a SA fez a 9 de Novembro de 1938". Nesse dia, grupos organizados de atacantes deitaram fogo a casas de judeus, marcando o início oficial do maior genocídio da História. "É nesse grupo que os senhores entram. O que fizeram é pura e simplesmente terrorismo."

Quando procurava na net os números exactos de ataques a refugiados, encontrei numa das notícias um comentário com os lamentos desculpantes do costume:

"Estas coisas acontecem com cada vez maior frequência como resultado da política de boas-vindas, que uma grande parte da população alemã não quer aceitar. Os protestos são ignorados, menosprezados, ou arrumados na gaveta da extrema-direita. Por meio de mentiras, o número de opositores a esta política de refugiados é permanentemente reduzido a uma dimensão infinitamente inferior à realidade. As manifestações não resultam, as petições também não, e os nossos tribunais têm cada vez maior tendência a ver ódio racial em tudo. A única solução que nos resta é aumentar o volume e a clareza.
Não é legítimo incendiar centros de refugiados mas, quando isso acontece, os políticos, e em especial a Angela Merkel, não estão inocentes. A Pegida, a AfD e todas as organizações que protestam contra a actual política têm se ser levadas a sério, porque são parte do povo alemão.
Neste momento, os alemães parecem um animal encurralado e cheio de medo. Em tal situação, qualquer ser vivo se torna, mais tarde ou mais cedo, violento e disposto a atacar."


Ontem, um tribunal alemão deu a este tipo de queixas uma resposta clara: há uma fronteira a partir da qual o que se diz e o que se faz é considerado terrorismo, e os seus autores são chamados à responsabilidade. Quatro anos e meio por conduzir os atacantes ao local do crime, por exemplo.

3 comentários:

Júlio de Matos disse...



Permito-me esta anormal liberdade "linguística" por se tratar do bandalho que trata: este animal de cabresto É A VERDADE NUA E CRUA DO PAÍS QUE SE CHAMA A SI PRÓPRIO AMÉRICA.

E nesse aspecto ele tem o (único) mérito de, finalmente, mostrar ao Mundo o que é a realidade desse País monstruoso. E odioso.

Oswaldo Morbay.

Helena Araújo disse...

Ó Júlio de Matos, mais moderação, faz favor. Acabaste de insultar uma data de amigos meus, todos boa gente.
Um dia destes ainda vais dizer que a Petry é a verdade nua e crua do país que se chama a si próprio Alemanha?!
Há muitas realidades paralelas em todos os países. Não vamos tomar a parte pelo todo.

Júlio de Matos disse...


1º) Mais moderação (sem favor): peço desculpa, mas não descobri nenhum insulto a amigos teus (nem sei porque deduziste tal conclusão), nem sequer a qualquer estado-unidense meu conhecido ou desconhecido, boa gente ou má rês. Apenas dois insultos e a um único, "conhecido" de ambos;

2º) Lamento não conhecer nenhuma senhora Petry (e aliás duvido muito que esteja algum dia interessado em conhecer, a vida não dá para se conhecer tudo...), mas menos ainda consigo perceber o que faz a Alemanha atual numa conversa sobre Trump(a);

3º) Tens obviamente toda a razão quando criticas o exagero da minha hipérbole, feita sobre um País tão poderoso e arrogante, que se atribuíu a si próprio o nome de todo um diversificadíssimo Continente (só conheço um exemplo parecido, a Austrália, mas até algum dos seus Estados declarar a independência, não me parece especialmente criticável...): claro que este D. Tr. não será a verdade, toda e única, dos Estados Unidos, mas é sem dúvida a verdade nua e crua (ou seja, sem disfarces, nem sofismas) de uma das suas facetas mais representativas! E que a mim me causa igualmente uma repulsa extrema. Mas será mesmo essa a faceta maior e a mais importante desse País? Pois, tal como tu afirmas, também eu estou em crer (e espero bem) que não - e há bastantes exemplos históricos que suportam isso, felizmente. Mas lá que muitos norte-americanos (*) fazem tudo para que acreditemos no contrário, disso ninguém tem muitas dúvidas.


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(*) Que me perdoem esta simplificação de linguagem os mexicanos e os canadianos, que ao fim de tantos anos já se devem ter habituado a este tipo de dissabores derivados do seu egocêntrico vizinho de condomínio...



Oswaldo Morbay.